sábado, 5 de junho de 2010

O que Fílon conta sobre os ascetas do Egipto (part 2)

Boa Leitura!

13.Depois Fílon continua escrevendo o que segue sobre como compõem para si novos salmos: "De forma que não somente se dedicam à contemplação, mas também compõem cantos e hinos a Deus, em todas as formas de metros e melodias, ainda que marcando-os forçosamente com números bastante graves."
14.Muitas outras coisas sobre o tema são explicadas no mesmo livro, mas pareceu-me necessário enumerar aquelas pelas quais se expõe as características da vida da Igreja.
15.Mas se a alguém parecer que o que dissemos não é próprio unicamente da forma de vida segundo o Evangelho, mas pode aplicar-se também a outros, além dos indicados, que se convença pelas palavras seguintes de Fílon, nas quais, se sua intenção é boa, encontrará um testemunho incontestável sobre este ponto, pois escreve assim:
16."Começam estabelecendo como fundamento da alma a continência, e sobre esta edificam as demais virtudes. Nenhum deles tomaria alimento ou bebida antes do pôr-do-sol, pois entendem que a luz é conveniente para filosofar, enquanto que às necessidades do corpo servem bem as trevas; por isso deixam o dia para aquele mister, e um breve espaço da noite para estas.
17.Alguns inclusive descuidam do alimento durante três dias: neles está mais arraigado o amor pela ciência. Outros de tal maneira se alegram e deleitam no banquete da sabedoria, que tão rica e abundantemente lhes abastece de doutrina, que podem resistir o dobro do tempo e tomar apenas o alimento necessário ao fim de seis dias, por costume." Cremos que estas palavras de Fílon referem-se clara e indiscutivelmente aos nossos.
18.Mas se depois do que foi dito alguém ainda se empenhar em contradizê-lo, afaste-se também este de sua incredulidade e convença-se com provas mais claras, que não podem ser achadas em outra parte senão na religião cristã segundo o Evangelho.
19.Diz efectivamente que, com os homens de que fala convivem também mulheres, a maioria das quais chegam virgens à velhice depois de guardar a castidade, não por necessidade como algumas sacerdotisas dos gregos, mas sim por convicção voluntária, devido ao seu zelo e sede de sabedoria, com a qual se esforçam em viver, sem importar-se em nada com os prazeres do corpo e desejosas de ter não filhos mortais, mas imortais, os quais somente a alma amante de Deus pode gerar de si mesma.
20.Um pouco mais adiante expõe ainda mais claramente o que segue: "Mas eles fazem as interpretações das Sagradas Escrituras por meio de sentidos simbólicos, em alegorias, já que toda a legislação parece a estes homens semelhante a um ser vivo: como corpo têm as expressões convencionadas; como alma, o sentido invisível encerrado nas palavras, sentido que esta seita começou a contemplar como que reflectida no espelho dos homens, a beleza extraordinária dos conceitos."
21.Para que acrescentar a tudo isto suas reuniões num mesmo lugar, o modo de vida que levam separadamente os homens e as mulheres e os exercícios que nós mesmos por costume ainda praticamos, sobretudo os que costumamos realizar na festa da Paixão do Salvador: abstinência, vigílias nocturnas e a aplicação às palavras divinas?
22.Tudo isto nos transmitiu muito exactamente o mencionado autor em sua própria obra, com o mesmo carácter que se pode observar até hoje somente entre nós. Descreve as vigílias completas da grande festa, os exercícios que nela são feitos e os hinos que costumamos dizer, e como, enquanto um vai salmodiando com ritmo e ordenadamente, os demais escutam em silêncio e repetem com ele somente o estribilho dos hinos, e também como nos dias assinalados deitam-se sobre leitos de palha e não tomam do vinho em absoluto - como escreve textualmente -, nem sequer carne, antes têm como única bebida a água e como condimento do pão apenas sal e hissôpo.
23.Além disso, descreve a ordem de precedência daqueles a quem estão confiados os ofícios eclesiásticos públicos, o serviço e as presidências do episcopado, que estão acima de todas. Quem desejar um conhecimento exacto de tudo isto pode consegui-lo na mencionada obra do referido autor.
24.E que Fílon escreveu isto depois de aceitar os primeiros arautos da doutrina evangélica e dos costumes que desde o princípio transmitiram os apóstolos, é evidente para todos133.

133 Eusébio trata Fílon como "um dos nossos", um escritor cristão, no que é seguido por S. Jerônimo, apesar de este
duvidar da autenticidade do texto de Fílon.

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