domingo, 20 de junho de 2010

De como Paulo, enviado preso da Judéia a Roma, fez sua defesa e foi absolvido de toda acusação

Boa Leitura!

1.Como sucessor deste, Nero enviou a Festo. Foi em seu tempo que Paulo sustentou seus direitos e foi enviado preso a Roma145. Com ele estava Aristarco, a quem em algum lugar de suas cartas chama com toda naturalidade de companheiro de cativeiro146. E Lucas, o que pôs por escrito os Atos dos Apóstolos, termina sua narrativa com estes acontecimentos, indicando que Paulo passou em Roma dois anos inteiros em liberdade provisória e que pregou a palavra de Deus sem nenhum obstáculo147.
2.É pois tradição148 que o Apóstolo, depois de haver pronunciado sua defesa, partiu novamente para exercer o ministério da pregação e que, tendo voltado pela segunda vez à mesma cidade, terminou sua vida com o martírio, nos tempos do mesmo imperador. Estando preso, compôs a segunda carta a Timóteo, e se refere de uma só vez a sua primeira defesa e a seu fim iminente.
3.Mas ouçamos melhor seu próprio testemunho: Em minha primeira defesa -diz - ninguém me ajudou, antes, todos me abandonaram (que isto não lhes seja posto em conta). Mas o Senhor me ajudou e me infundiu forças para que por mim a pregação fosse plenamente cumprida e todas as nações a ouvissem, e fui libertado da boca do leão149.
4.Por estas palavras deixa claramente expresso que na primeira ocasião, para que se cumprisse sua pregação, fora livrado da boca do leão, referindo-se com esta expressão, ao que parece, a Nero, por causa de sua crueldade. Por outro lado, em continuação não acrescenta nada como: me livrará da boca do leão, porque em seu espírito já via que sua morte seria iminente.
5.Por isso, às palavras: e fui libertado da boca do leão, acrescenta: O Senhor me livrará de toda obra má e me preservará para seu reino celestial150, indicando assim seu martírio iminente. Isto ele expressa ainda mais claramente um pouco antes, na mesma carta, quando diz: porque estou já sendo oferecido em libação e o tempo de minha partida está próximo151.
6.Pois bem, na segunda carta das que enviou a Timóteo afirma que, no momento em que a escrevia, somente Lucas o acompanha152, enquanto que, quando fez sua primeira defesa, nem sequer este153.
De onde se deduz que Lucas provavelmente concluiu os Actos dos Apóstolos neste tempo, havendo narrado o que sucedeu enquanto esteve com Paulo.
6.Dissemos isto para mostrar que o martírio de Paulo não ocorreu durante sua primeira estada em Roma, descrita por Lucas154.
7.É provável que Nero, ao menos no começo155, estivesse mais propício e que aceitasse mais facilmente a defesa de Paulo em favor de sua doutrina, mas depois que avançou em sua audácia criminosa, atacou os apóstolos tanto quanto aos demais.


145 Act 25:8-12; 27:1-2.
146 Cl 4:10.
147 At 28:30-31.
148 Tradição escrita, pela expressão utilizada.
149 2 Tm 4:16-17.
150 2 Tm 4:18.
151 2 Tm 4:6.
152 2Tm4:11.
153 2 Tm 4:16.
154 Em princípios do século IV, quando Eusébio escrevia esta obra, alguns negavam que Paulo tivesse feito duas viagens a Roma.
155 Entre os anos 54 e 59, tempos de calma e bem-estar, Nero ouvia mais os conselhos moderados de Burro e Séneca do que os de sua mãe Agripina.

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