quarta-feira, 2 de junho de 2010

O que Fílon conta sobre os ascetas do Egipto (part 1)

Boa Leitura!

1.Um documento diz que Fílon, nos tempos de Cláudio, chegou a Roma para conversar com Pedro, que então estava pregando aos dali. Isto na verdade pode não ser inverossímil, já que a própria obra de que falo - composta por ele mais tarde, passado muito tempo - contém claramente as regras da Igreja, observadas ainda em nossos dias.
2.Ocorre no entanto que, ao descrever com a maior exactidão possível a vida de nossos ascetas, fica evidente que ele não somente conhecia, mas também aprovava, reverenciava e honrava os valores apostólicos de seu tempo, de origem hebraica ao que parece, e que por isso conservavam ainda a maior parte dos antigos costumes muito à maneira dos judeus.
3.Em primeiro lugar, no livro que intitulou Da vida contemplativa ou Suplicantes, Fílon deixa bem estabelecido que não acrescentaria ao que contasse nada contrário à verdade nem de sua própria criação. Diz que eram chamados terapeutas, e as mulheres que estavam com eles terapeutisas, e comenta as razões de tais nomes: ou porque como médicos livravam aqueles que os cercavam dos sofrimentos causados pela maldade às almas, curando-os e cuidando deles, ou pela limpeza e pureza de seu serviço e culto à divindade.
4.Portanto não é necessário estender-se discutindo se Fílon colocou-lhes ele mesmo este nome, escrevendo o nome que correspondia à índole desses homens, ou se na verdade já se chamavam assim aos primeiros quando começaram, já que o nome de cristãos ainda não era bem conhecido em qualquer lugar.
5.De qualquer forma, em primeiro lugar atesta seu afastamento das riquezas, afirmando que, quando começam a viver esta filosofia, cedem seus bens aos parentes e assim, livres de toda preocupação pela vida, saem para fora das muralhas para seguir sua vida em campos isolados e em bosques, sabendo que o convívio com pessoas de sentimentos diferentes é nocivo e sem proveito. Naquele tempo, ao que parece, os que agiam assim exercitavam-se em imitar com sua fé entusiástica e ardorosa a vida dos profetas.
6.Com efeito, também nos Actos dos Apóstolos, que são reconhecidos como autênticos, descreve-se que todos os discípulos dos apóstolos vendiam suas posses e riquezas e as repartiam a todos conforme a necessidade de cada um, de forma que entre eles não havia indigentes129. Portanto, segundo diz o livro130, todos os que possuíam campos ou casas os vendiam, e levando o produto da venda, depositavam-no aos pés dos apóstolos, de modo que os repartissem a cada um segundo suas necessidades.
7.Fílon, depois de atestar práticas semelhantes a estas continua dizendo textualmente: "Este tipo de homens se encontra em muitos lugares do mundo, pois é mister que tanto a Grécia como as terras bárbaras participem do bem perfeito. Mas onde abundam é no Egipto, em cada um dos chamados nomos131, e sobretudo em torno de Alexandria.
8. Os melhores de cada região são enviados a um tipo de colónia, como a uma pátria dos terapeutas, um lugar muito adequado, que se encontra às margens do lago Mareia, sobre uma colina baixa, nas melhores condições devido à segurança e à salubridade do ar." Descreve então como eram suas moradias, e sobre as igrejas da região diz o que segue:
9."Em cada casa há uma sala sagrada, que se chama oratório privado e monastério132, na qual se isolam e realizam os mistérios da vida sagrada. Nela não introduzem bebida, nem alimento, nem nada do que é necessário para o corpo, mas leis, oráculos anunciados por meio dos profetas, hinos e tudo aquilo com que o conhecimento e a religião crescem e se aperfeiçoam." E depois de outras coisas, diz:
10."O tempo que vai do alvorecer ao ocaso é empregado inteiramente nesta prática: lêem as Escrituras Sagradas, filosofam e expõe a filosofia pátria empregando a alegoria, já que pensam que a expressão falada é símbolo da natureza oculta, que se manifesta em alegorias.
11.Possuem também escritos de antigos varões que foram os fundadores de sua seita e deixaram numerosos monumentos de sua doutrina em forma de alegorias. Tomam-nos por modelos e imitam sua maneira de pensar e agir."
12.Isto parece ser, portanto, o que disse o homem que os ouviu interpretar as Sagradas Escrituras. E talvez os escritos dos antigos, que ele diz que possuem, sejam possivelmente os Evangelhos, os escritos dos apóstolos e algumas explicações que interpretam, como é natural, os antigos profetas, que são as que contêm a Carta aos Hebreus e outras cartas de Paulo.

129 At 2:45.
130 At 4:34-35.
131 Distritos em que era dividido o Egipto.
132 Fílon não fala de igreja, como diz Eusébio, mas de habitação sagrada, com o duplo nome de oratório privado e monastério (lugar para uma só pessoa).

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