quinta-feira, 29 de julho de 2010

De Josefo e os escritos que deixou

Boa Leitura!

1. Depois de todas estas coisas, seria bom não ignorar o próprio Josefo – que tanto material forneceu para a obra que tens entre as mãos - de que país e de que família procedia. Também será ele mesmo quem nos declarará isto. Diz assim: "Josefo, filho de Matias, sacerdote originário de Jerusalém, que primeiro fez guerra pessoalmente contra os romanos e logo, por necessidade, ficou à mercê dos acontecimentos posteriores202."
2.Foi o mais famoso de todos os judeus de sua época, e não somente entre seus compatriotas, mas também entre os romanos, ao ponto de ser honrado com uma estátua203 em Roma, e seus livros serem considerados dignos de uma biblioteca.
3.Josefo expôs toda a Antiguidade judaica em vinte livros completos, e a História da guerra romana de seu tempo em sete. Ele mesmo atesta que não a entregou apenas em língua grega, mas também em sua língua materna204. Por tudo o mais é digno de crédito.
4.Há também dele outros livros dignos de estudo, intitulados Sobre a antiguidade dos judeus. Neles refuta o gramático Apion, que tinha então composto um tratado contra os judeus. Também refuta a outros que haviam tentado igualmente caluniar as instituições pátrias do povo judeu.
5.No primeiro destes livros estabelece o número de escritos do chamado Antigo Testamento, mostrando quais são os não discutidos entre os hebreus, como provenientes de uma antiga tradição. Diz textualmente:

De que maneira cita os livros divinos

1."Não há pois entre nós milhares de livros em desacordo e em mútua contradição, mas há sim, apenas vinte e dois livros que contêm a relação de todo o tempo e que com justiça são considerados divinos.
2.Destes, cinco são de Moisés, e compreendem as leis e a tradição da criação do homem até a morte de Moisés. Este período abarca quase três mil anos.
3.Desde a morte de Moisés até a de Artaxerxes, rei dos persas depois de Xerxes, os profetas posteriores a Moisés escreveram os fatos de suas épocas em treze livros. Os outros quatro contêm hinos em honra a Deus e regras de vida para os homens.
4.Desde Artaxerxes até nossos dias tudo foi escrito, mas nem tudo merece a mesma confiança que o anterior, por não apresentar sucessão exacta dos profetas.
5.Mas os fatos manifestam como nós nos sentimos próximos a nossas escrituras. Assim é que, transcorrido já tanto tempo, ninguém se atreveu a acrescentar, nem tirar, nem mudar nada nelas, antes, é natural a todos os judeus, já desde seu nascimento, crer que estes escritos são decretos de Deus, e aferrar-se a eles e prazerosamente morrer por eles caso seja necessário."
6.Estas palavras do autor aqui apresentadas não deixarão de ser úteis. Há também outra obra escrita por ele, não sem nobreza, Sobre a supremacia da razão, que alguns intitularam Macabeus, porque contém as lutas dos hebreus valentemente sustentadas em defesa da piedade para com Deus e referidas nos escritos assim chamados Dos Macabeus205.
7.E quase no final do livro XX de suas, Antiguidades, o mesmo autor acrescenta a declaração de que tem o propósito de escrever em quatro livros, seguindo as crenças pátrias dos judeus, acerca de Deus e de sua essência, e sobre as leis; porque, segundo elas, algumas coisas podem ser feitas e outras são proibidas. O mesmo autor, em seus próprios tratados, menciona outras obras por ele produzidas.
8.Além disso, será bom mencionar também as palavras que estão no final de suas Antiguidades, para confirmação dos testemunhos que dele tomei. Quando acusa Justo de Tiberíades - que tentara fazer, assim como ele mesmo, uma história dos fatos daquele tempo - de não haver escrito a verdade, depois de incluir outras muitas emendas, acrescenta textualmente o que segue:
9."Na verdade eu não tenho os mesmos temores que tu tens no que se refere a meus escritos, pois entreguei meus livros aos próprios imperadores estando os fatos ainda quase ante os olhos, porque tinha consciência de ter conservado a tradição da verdade, e não me enganei ao esperar obter seu testemunho.
10.Também enviei minha narrativa a muitos outros, alguns dos quais tinham estado na guerra, como o rei Agripa e alguns parentes seus.
11.E ocorre que o imperador Tito quis que o público fosse informado dos fatos somente através destes livros, tanto é assim que ele assinou a ordem de publicá-los de próprio punho. E o rei Agripa escreveu sessenta e duas cartas atestando que os livros transmitem a verdade." Destas cartas Josefo inclusive cita duas. Mas baste o que já dissemos sobre ele, e prossigamos.

202 Nasceu no primeiro ano de Calígula (37-38 d.C), entrou em contacto com os romanos em 64. Em 66 comanda parte
das forças revolucionárias da Galiléia e cai prisioneiro dos romanos em 67. Desde sua libertação em 69 toma parte dos
acontecimentos ao lado dos romanos e vive em Roma o resto de seus dias.
203 Esta é a única referência que existe sobre esta estátua.
204 Conserva-se apenas a versão grega, perdeu-se a Aramaica.
205 Esta obra não foi escrita por Josefo, mas por um autor contemporâneo ou pouco posterior.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos sinais que precederam a guerra

Boa Leitura!

1. Toma pois, e lê o que apresenta no livro VI de suas Histórias com estas palavras: "Naquele tempo os impostores e os que levantavam tais calúnias contra Deus pervertiam o povo miserável, de forma que nem percebiam nem davam crédito a tais prodígios bem claros que anunciavam de antemão a iminente desolação; antes, como se aturdidos por um raio e como se não tivessem olhos nem alma, faziam ouvidos surdos às mensagens de Deus.
2.Estas foram: um astro que se deteve sobre a cidade, semelhante a uma espada de dois gumes, e um cometa que durou todo um ano. Outra vez foi quando, antes da insurreição e dos distúrbios que levaram à guerra, estando o povo reunido para celebrar a festa dos ázimos, no oitavo dia do mês de Jantico, à nona hora da noite, brilhou sobre o altar e o templo uma luz tão grande que poder-se-ia pensar que era dia, e isto durou uma meia hora. Aos ignorantes poderia parecer um bom sinal, mas os escribas interpretaram-no correctamente antes que os fatos ocorressem.
3.E na mesma festa, uma vaca que o sumo sacerdote conduzia ao sacrifício pariu um cordeiro no meio do templo.
4.E a porta oriental do interior, que era de bronze e muito pesada, e que havia sido fechada ao anoitecer com dificuldade por vinte homens que a trancaram solidamente com ferrolhos presos com ferro, além de ter gonzos profundos, abriu-se sozinha à sexta hora da noite.
5.E passada a festa, não muito depois, no vigésimo primeiro dia de Artemisio, apareceu um fantasma demoníaco de tamanho incrível. E o que se passará a dizer poderia parecer mentira se não tivesse sido contado pelos mesmos que o viram e se os sofrimentos que se seguiram não fossem dignos destes sinais. De fato, antes do pôr-do-sol, apareceram pelo ar em redor de toda a região carros e falanges armadas que se lançavam através das nuvens e rodeavam as cidades.
6.E na festa chamada Pentecostes, à noite, entrando os sacerdotes no templo, como de costume, para exercer suas funções, dizem que primeiramente perceberam movimento e ruído de golpes, e logo um grito em uníssono: Saiamos daqui!
7.E o que é mais terrível: um homem chamado Jesus, filho de Ananías, homem simples, camponês, quatro anos antes da guerra, quando a cidade desfrutava da maior paz e do máximo esplendor, veio à festa, pois era costume que todos erigissem tendas em honra a Deus197, e de repente começou a gritar pelo templo: Voz do oriente! Voz do ocidente! Voz dos quatro ventos! Voz sobre Jerusalém e sobre o templo! Voz dos recém-casados e casadas! Voz sobre todo o povo! Dia e noite gritava isto por todas as vielas.
8.Mas alguns cidadãos notáveis, irritados pelo mau agouro, prenderam o homem e maltrataram-no, enchendo-o de feridas. Mas ele, que não falava em proveito próprio nem por conta própria, continuava gritando aos presentes o mesmo que antes.
9.Pensando então os chefes que a agitação daquele homem era algo demoníaco, conduziram-no ante o procurador romano198. Ali, dilacerado com açoites até os ossos, não suplicou nem derramou uma lágrima, mas, tornando sua voz tão chorosa quanto possível, a cada ferida respondia: Ai, ai de Jerusalém!"
10.Comenta o mesmo Josefo outro fato mais extraordinário. Diz que nas escrituras sagradas encontrou-se um oráculo com este conteúdo: que naquele tempo alguém saído de seu país regeria o mundo. O próprio Josefo concluiu que o oráculo tinha sido cumprido em Vespasiano199.
11.Mas este não governou a todo o mundo, mas somente à parte submetida aos romanos. Seria pois mais justo referi-lo a Cristo, a quem o Pai havia dito: Pede-me e te darei nações como herança e os confins da terra como tua possessão200. Pois bem, por este mesmo tempo chegara a toda a terra a voz dos santos apóstolos e aos confins do mundo suas palavras201.

197 Era portanto a festa dos Tabernáculos (Setembro-Outubro).
198 Luceius Albinus, procurador entre 62 e 64.
199 Não se sabe em que passagem da escritura poderia encontrar-se este oráculo.
200 Sl 2:8.
201 Rm 10:18.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sobre as profecias de Cristo

Boa Leitura!

1.É justo acrescentar a pregação infalível de nosso Salvador pela qual mostrava estas mesmas coisas quando profetizava assim: AÍ das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, nem haverá jamais191.
2.Somando o número total de mortos, o escritor diz que pela fome e pela espada pereceram um milhão e cem mil pessoas; que os rebeldes e bandidos que ainda sobraram foram se denunciando uns aos outros depois da tomada da cidade e foram executados; que os jovens mais esbeltos e que sobressaíam por sua beleza física foram reservados para a cerimónia do "triunfo", e do resto da população, os que passavam de dezassete anos, uns eram enviados acorrentados aos trabalhos forçados no Egipto, e outros, mais numerosos, foram distribuídos pelas províncias para faze-los perecer nos teatros pela espada ou pelas feras; e os que ainda não tinham chegado aos dezassete anos eram conduzidos cativos para serem vendidos. Somente destes o número dava um total de uns noventa mil192.
3.Estes acontecimentos ocorreram deste modo no segundo ano do império de Vespasiano193, segundo as predições de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que, por seu divino poder, havia visto de antemão estas mesmas coisas como se já estivessem presentes e havia chorado e soluçado, segundo a Escritura dos sagrados evangelistas, que inclusive acrescentam suas próprias palavras: umas, as que disse dirigindo-se à mesma Jerusalém:
4. Se tu conheceras ao menos neste dia o que diz respeito a tua paz! Mas agora está oculto aos teus olhos. Porque virão dias sobre ti, e teus inimigos te rodearão de paliçadas, te cercarão e por todos os lados te apertarão. E te assolarão a ti e a teus filhos194.
5.E outras como referindo-se ao povo: Porque haverá grande necessidade sobre a terra e ira contra este povo. E cairão ao fio da espada e serão levados cativos a todas as nações. E Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que sejam cumpridos os tempos destes povos195. E outra vez: E quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei então que terá chegado sua desolação196.
6.Se alguém comparar as palavras de nosso Salvador com os demais relatos do escritor acerca da guerra inteira, como não ficar admirado e confessar como verdadeiramente divinas e sobre naturalmente prodigiosas a presciência e a predição de nosso Salvador?
7.Portanto, sobre o acontecido à nação inteira depois da paixão do Salvador e dos gritos com os
quais a plebe judia pediu para livrar da morte o ladrão e assassino e suplicou que tirassem de seu
meio o autor da vida, não haverá necessidade de acrescentar nada à narrativa.
8.Contudo, seria justo acrescentar o que poderia ser significativo sobre o amor da divina providência aos homens, pois retardou a destruição dos culpados durante quarenta anos completos depois de seu crime contra Cristo. Durante estes anos, numerosos apóstolos e discípulos, e o próprio Tiago, primeiro bispo dali e chamado irmão do Senhor, que ainda viviam e moravam na mesma cidade de Jerusalém, mantinham-se fiéis ao lugar como fortíssima muralha.
9.A providência divina até aquele momento mostrava sua grande paciência, para o caso de que se arrependessem de seu feito e alcançassem assim o perdão e a salvação; e como se tal longanimidade fosse pouco, deixava ver sinais divinos extraordinários do que lhes sucederia se não se arrependessem. Também estes sinais foram considerados notáveis pelo autor citado. Nada melhor do que oferece-los aos que lêem esta obra.

191 Mt 24:19-21.
192 Os números dados por Josefo e citados por Eusébio devem ser exagerados levando em conta a população da Palestina na época. Para Tacitus os assediados em Jerusalém eram uns 600.000. Josefo cita como total de prisioneiros para toda duração da guerra o número de 97.000, de todas as idades.
193 Exactamente em Setembro do ano 70.
194 Lc 19:42-44.
195 Lc 21:23-24.
196 Lc 21:20.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre a fome que oprimiu os judeus

Boa Leitura!

1. Assim pois, se tomas outra vez em tuas mãos o livro V das Histórias de Josefo, leia a tragédia que lhes aconteceu então: "Para os ricos - diz - ficar era o mesmo que perder-se, pois, sob pretexto de que deserdavam, assassinavam qualquer um pelos seus bens. Com a fome crescia o desespero dos rebeldes, e dia a dia uma e outro se acendiam terrivelmente.
2.O trigo estava invisível, mas eles invadiam as casas e as revistavam. Então, se o encontravam, maltratavam-nos por ter negado; se não o encontravam, torturavam-nos por tê-lo escondido tão cuidadosamente. A prova de ter ou não ter eram os corpos dos desgraçados: os que ainda se aguentavam em pé pareciam ter alimentos em abundância; os que já estavam consumidos eram deixados em paz: parecia fora de propósito matar alguém que logo morreria de inanição.
3.Muitos davam secretamente seus bens em troca de uma medida de trigo se eram ricos; de cevada os mais pobres. Trancavam-se no mais oculto de suas casas e, impelidos pela necessidade, uns comiam o trigo cru; outros o coziam à medida que a necessidade e o medo ditavam.
4.Não se punha a mesa, antes, tiravam do fogo a comida ainda crua e a devoravam. O alimento era miserável e o espectáculo deplorável: os mais fortes tomando tudo e os fracos lamentando-se.
5. A fome excede todos os sofrimentos, mas nada ela destrói mais do que o senso de dignidade, pois o que em outro tempo seria tido como digno de respeito é depreciado em tempo de fome. Assim, as mulheres tiravam os alimentos da própria boca dos maridos, os filhos da de seus pais e, o que é demasiado lamentável, as mães das bocas de seus filhos, e enquanto os seres mais queridos se consumiam entre suas mãos, nada os refreava de tirar-lhes as últimas gotas que os permitiam viver.
6.Mas, mesmo sendo esta sua comida, não permanecia oculta. Por toda parte caíam-lhes em cima os rebeldes em busca dessa presa. Quando viam uma casa fechada, era sinal de que os ocupantes tinham conseguido comida, e imediatamente arrombavam as portas e se precipitavam para dentro, e só lhes faltava apertar as gargantas e arrancar-lhes o bocado.
7.Golpeavam os anciãos que não soltavam seus alimentos e arrancavam o cabelo das mulheres que escondiam o que tinham nas mãos. Não havia compaixão nem pelos velhos nem pelas crianças, mas levantavam as crianças que seguravam seu bocado e as deixavam cair contra o solo. Com aqueles que, adiantando-se a seu ataque, engoliam antes o que tentariam tirar-lhes, eram ainda mais cruéis, como se tivessem sofrido uma injustiça.
8.Usavam espantosos métodos de tortura para descobrir comida: obstruíam a uretra dos desgraçados com grãos de legumes e trespassavam-lhes o recto com varas pontiagudas. Padeciam-se tormentos que espantam apenas por ouvi-los, até confessar a posse de um único pedaço de pão e descobrir um só punhado de farinha escondida.
9.Mas os torturadores não passavam fome alguma - sua crueldade seria menor se atendesse a uma necessidade -, mas exercitavam seu louco orgulho e iam ajuntando provisões para os dias vindouros.
10.Seguiam os que à noite se arrastavam até os postos romanos para recolher legumes silvestres e ervas. Quando estes pensavam que já haviam escapado dos inimigos, aqueles tiravam-lhes o que levavam, e muitas vezes, se os infelizes suplicavam invocando pelo terrível nome de Deus que lhes deixassem uma parte do que com tanto perigo tinham trazido, não lhes deixavam nem isto, e ainda podiam dar-se por satisfeitos se, além de serem despojados, não eram assassinados."
11. A isto, depois de outras coisas, acrescenta: "Com o êxodo cortou-se para os judeus também toda esperança de salvação, e a fome, abatendo-se sobre cada casa e cada família, ia devorando o povo. Os terrenos enchiam-se de mulheres e de crianças de peito mortos, e as vielas de cadáveres de anciãos.
12. Rapazes e jovens, inchados, vagavam pelas praças como espectros e caíam mortos onde a dor os colhesse. Os doentes não tinham forças para enterrar seus parentes, e os que teriam podido negavam-se, por serem tantos os mortos e pela incerteza de seu próprio destino. De fato, muitos caíam mortos junto aos que tinham acabado de enterrar, e muitos iam a sua tumba antes que a necessidade o impusesse.
13.Não havia lamentos nem choro por estas calamidades: a fome afogava os sentimentos, e os que lentamente morriam contemplavam com olhos secos os que morriam antes deles. Um silêncio profundo e uma noite carregada de morte envolviam a cidade. E pior do que tudo isto eram os ladrões.
14.Penetravam nas casas como ladrões de tumbas, despojavam os cadáveres e, depois de arrancar os panos que cobriam os corpos, iam embora entre risadas. Testavam o fio de suas espadas nos cadáveres e, provando o ferro, atravessavam alguns, que já caídos, ainda viviam. Mas se alguém lhes pedia que utilizassem nele sua força e sua espada, desdenhavam-no e abandonavam-no à fome. E todo o que expirava olhava fixamente para o templo, porque deixava vivos atrás de si os rebeldes.
15.Estes, no começo, por não suportar o fedor, mandavam enterrar os mortos às custas do tesouro público, mas logo, quando não davam mais conta, atiravam-nos sobre as muralhas aos barrancos. Quando Tito fez a ronda por aqueles barrancos e viu que estavam repletos de cadáveres e o espesso líquido escuro que manava por debaixo dos cadáveres em putrefacção, pôs-se a gemer e levantando as mãos tomava a Deus por testemunha de que aquilo não era obra sua."
16.Depois de acrescentar mais algumas coisas, continua dizendo: "Eu não poderia deixar de expressar o que o sentimento me ordena: creio que, se os romanos tivessem demorado em sua acção contra os culpados, o abismo teria engolido a cidade, ou as águas a teriam submergido, ou teria sido alcançada pelos raios de Sodoma, pois a geração que continha era muito mais ímpia do que as que sofreram estes castigos. E pela demência criminosa destas pessoas, o povo inteiro pereceu com elas."
17. E no livro VII escreve o seguinte: "Foi infinito o número dos que pereceram na cidade por fome, e os padecimentos eram indizíveis. Em cada casa havia guerra como se aparecesse em um canto uma sombra de comida, e os que mais se queriam entre si pegavam-se aos tapas para tirar o miserável sustento da vida. Nem sequer nos moribundos confiava a necessidade.
18.Os ladrões revistavam inclusive os que estavam expirando, para que alguém não escondesse alimentos sob a roupa e fingisse estar morto. Outros, com a boca aberta por efeito da desnutrição, andavam cambaleando e desancados como cães raivosos e empurravam as portas como fazem os bêbados e, em sua impotência, entravam nas mesmas casas duas ou três vezes em uma só hora.
19.A necessidade fazia com que levassem tudo à boca, e quando recolhiam alimentos até indignos dos animais irracionais mais repugnantes, levavam-no para comer escondido, a assim acabaram por não abster-se nem dos cintos e dos calçados, tiravam as peles de seus escudos e as mastigavam. Para alguns até fiapos de ervas velhas eram alimento, outros recolhiam fibras de plantas e vendiam uma porção mínima por quatro dracmas áticos.
20.E o que haveria para dizer sobre a impudência das pessoas presas do desânimo? Porque vou mostrar uma obra sua que não está narrada nem entre os gregos nem entre os bárbaros, espantosa de dizer, incrível de escutar. Eu pelo menos, para não dar a impressão de que estou inventando para a posteridade, de bom grado omitiria esta calamidade se não tivesse uma infinidade de testemunhos contemporâneos meus. Além disso prestaria pouco serviço a minha pátria se renunciasse a relatar os males que de fato padeceram.
21.Uma mulher das que habitavam na outra margem do Jordão, chamada Maria, filha de Eleazar, da aldeia de Batezor - nome que significa "casa de hissôpo" - notável por suas riquezas e sua linhagem, fugiu para Jerusalém com o resto da multidão e com esta compartilhava o assédio.
22.Os tiranos tiraram-lhe todos os bens que havia reunido e levado consigo à cidade desde Peréia. O resto de seu enxoval e o pouco alimento que encontraram foi sendo roubado por pessoas armadas que entravam a cada dia. Foi grande a indignação daquela pobre mulher, que muitas vezes injuriava e maldizia os ladrões para excitá-los contra si mesma.
23.Mas como ninguém a matava, movidos pela ira ou pela compaixão, e cansada de buscar alimentos para outros, que já eram impossíveis de encontrar em parte alguma, com as entranhas e a medula trespassadas pela fome, tomou como conselheiras a cólera e a necessidade e se lançou contra natureza, agarrou o filho que tinha - criança ainda de peito - e disse:
24.Criatura desgraçada! Em meio à guerra, à fome e à revolta, para quem vou guardar-te? Entre os romanos, se por acaso cairmos vivos em suas mãos, a escravidão; mas a fome se antecipa à própria escravidão e os rebeldes são ainda piores do que ambas as coisas. Eia! Seja alimento para mim, maldição para os rebeldes e fábula para o mundo: a única coisa que faltava às calamidades dos judeus!
25.E enquanto dizia estas coisas, deu morte a seu filho. Depois assou-o e comeu a metade; o resto guardou escondido. Em seguida apareceram os rebeldes, e farejando a ímpia exalação, ameaçaram a mulher de degolá-la imediatamente se não lhes mostrasse o que tinha preparado. Ela então lhes disse que para eles guardara uma boa porção e revelou o que restava de seu filho.
26.O horror e o pasmo surpreendeu-os na hora e ficaram cravados no lugar diante daquele espectáculo. Mas ela disse: é meu próprio filho e eu o fiz. Comei, pois também eu comi. Não sejais mais brandos do que uma mulher nem mais compassivos do que uma mãe. Mas se por escrúpulos piedosos recusais meu sacrifício, eu já comi por vós, fique o resto também para mim.
27.Depois disto, aqueles foram-se tremendo: foi a única vez em que se acovardaram e que, de malgrado, cederam à mãe tal comida. Em seguida a cidade inteira encheu-se de horror, e todo o mundo estremeceu ao ser-lhe apresentado frente aos olhos aquele crime como sendo seu próprio.
28. E entre os esfomeados havia pressa para morrer e uma certa inveja pelos que haviam se adiantado morrendo antes de ouvir e contemplar semelhantes horrores." Esta foi a recompensa dos judeus por sua iniquidade e impiedade para com o Cristo de Deus.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Sobre o último assédio dos judeus depois de Cristo

Boa Leitura!

1.Depois de Nero ter exercido o poder durante treze anos, e tendo os reinados de Galba e Oto durado um ano e seis meses, Vespasiano, que havia se distinguido nas operações bélicas contra os judeus, foi nomeado imperador na própria Judeia, após ser proclamado senhor absoluto pelo exército ali acampado. Encaminhando-se então a Roma, pôs em mãos de seu filho Tito a guerra contra os judeus.
2.Depois da ascensão de nosso Salvador, os judeus acrescentaram ao crime cometido contra ele a invenção de inúmeras ameaças contra seus apóstolos: Estevão foi o primeiro que eliminaram, apedrejando-o188; depois dele, Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João, a quem decapitaram189; e depois de todos, Tiago, o que depois da ascensão de nosso Salvador foi o primeiro designado para o trono episcopal de Jerusalém e morreu da forma que já descrevemos. E os demais apóstolos sofreram milhares de ameaças de morte e foram expulsos da terra da Judeia. Porém, com o poder de Cristo, que havia-lhes dito: Ide e fazei discípulos de todas as nações em meu nome190, dirigiram seus passos para todas as nações para ensinar a mensagem.
3.E não apenas eles. Também o povo da igreja de Jerusalém, por seguir um oráculo enviado por revelação aos notáveis do lugar, receberam a ordem de mudar de cidade antes da guerra e habitar certa cidade da Peréia chamada Pella. Tendo os que creram em Cristo emigrado até lá desde Jerusalém, a partir deste momento, como se todos os homens santos tivessem abandonado por completo a própria metrópole real dos judeus e toda a região da Judeia, a justiça divina alcançou os judeus pelas iniquidades que cometeram contra Cristo e seus apóstolos, e apagou dentre os homens toda aquela geração de ímpios.
4. Quem pois quiser saber com exactidão os males que então caíram sobre a nação em todo lugar, e como especialmente os habitantes da Judeia viram-se empurrados ao fundo das calamidades, quantos milhares de jovens, de mulheres e de crianças morreram pela espada, pela fome, e inúmeras outras formas de morte, e quantas e quais cidades da Judeia foram sitiadas, e também quantos horrores e pior do que horrores atingiram os que se refugiaram na mesma Jerusalém, por ser um metrópole muito fortificada, assim como a índole de toda a guerra, os acontecimentos que nela se sucederam e como, finalmente, a abominação da desolação anunciada pelos profetas se instalou no próprio templo de Deus, tão célebre antigamente, que sofreu todo tipo de destruição e, por último, foi aniquilado pelo fogo: tudo isso encontrará na narrativa escrita por Josefo.
5.Mas é necessário assinalar que este mesmo autor refere que o número dos que se concentraram nos dias da festa da Páscoa, vindos de toda a Judeia para Jerusalém, como num cárcere, para usar suas palavras, era de uns três milhões.
6.Era necessário pois, que nos dias em que causaram a paixão do Salvador e benfeitor de todos e Cristo de Deus, nestes mesmos, encerrados como num cárcere, recebessem a ruína que os alcançava da justiça de Deus.
7.Mas passando por alto o que lhes sobreveio e o que lhes foi feito pela espada e de outras maneiras, acho necessário apresentar apenas as calamidades causadas pela fome, para que os que leiam este escrito possam saber em parte como não tardou muito para que os alcançasse o castigo divino por seu crime contra o Cristo de Deus.

188 Act 7:58-60.
189 Act 12:2.
190 Mt 28:19.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobre a primeira sucessão dos apóstolos

Boa Leitura!

1.Que Paulo pregou aos gentios e que, desde Jerusalém até o Ilírico, deitou os alicerces das igrejas, está bem claro em suas próprias palavras176 e no que Lucas narra nos Actos.
2.Pelas palavras de Pedro em sua Carta, da qual já dissemos que é aceita, e que escreve aos hebreus da diáspora, moradores do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, percebe-se claramente em que províncias ele pregou a Cristo e transmitiu a doutrina do Novo Testamento aos que procediam da circuncisão177.
3.Não é porém fácil dizer quantos e quais destes, convertidos em homens de zelo genuíno, foram considerados capazes de apascentar as igrejas fundadas por estes apóstolos, a não ser os que podem ser vistos nos escritos de Paulo.
4.Este realmente teve inúmeros colaboradores e - como ele mesmo os chama - companheiros de luta178. A maior parte ele considera digna de memória imorredoura e em suas próprias cartas dá contínuo testemunho deles. E não somente isto, mas também Lucas nos Atos dá uma lista dos discípulos de Paulo e os menciona pelo nome.
5.Pelo menos sobre Timóteo refere-se que foi o primeiro a ser designado para o episcopado da igreja de Éfeso179, assim como Tito, das igrejas de Creta180.
6.Lucas, por outro lado, oriundo de Antioquia por sua linhagem e médico de profissão181, foi durante a maior parte do tempo companheiro de Paulo. Mas seu trato com os outros apóstolos também não foi superficial: deles adquiriu a terapêutica das almas, da qual nos deixou exemplos em dois livros divinamente inspirados: o Evangelho, que ele confessa ter composto segundo o que lhe transmitiram os que foram testemunhas oculares e se fizeram servidores da doutrina, dos quais ele diz que seguiu já desde o começo182, e os Actos dos Apóstolos que compôs, já não com o que tinha ouvido, mas com o que viu com os próprios olhos.
7.Diz-se também que Paulo costumava mencionar o Evangelho de Lucas sempre que, escrevendo, dizia como se se tratasse de um evangelho seu: segundo meu Evangelho183.
8.Dos restantes seguidores de Paulo, está provado que Crescente foi enviado por ele à Gália184; e Lino, que é mencionado na II carta a Timóteo indicando que se encontra com ele em Roma185, já foi demonstrado anteriormente que foi designado para o episcopado da igreja de Roma, o primeiro depois de Pedro.
9.Paulo também atesta que Clemente - instituído terceiro bispo da Igreja de Roma - foi seu colaborador e companheiro de luta186.
10.Além destes há também o areopagita chamado Dionísio, sobre o qual Lucas escreve nos Atos187 que foi o primeiro que creu depois do discurso de Paulo aos atenienses no Areópago, e de quem outro antigo Dionísio, pastor da igreja de Coríntio, conta que foi o primeiro bispo de Atenas.
11.Mas, à medida que avançarmos no caminho, diremos oportunamente, segundo as épocas, o referente à sucessão dos apóstolos. Agora sigamos o fio da narrativa.

176 Rm 15:19.
177 Gl 2:7-10.
178 Fp 2:25.
179 1 Tm 1:3.
180 Tt 1:5.
181 Cl 4:14.
182 Lc 1:2-3.
183 Rm 2:l6;2 Tm 2:8.
184 2 Tm 4:10.
185 2 Tm 4:21.
186 Fp 4:3.
187 At 17:34.

Sobre as cartas dos apóstolos

Boa Leitura!

1.De Pedro reconhecemos uma única carta, a chamada I de Pedro. Os próprios presbíteros antigos utilizaram-na como algo indiscutível em seus próprios escritos. Por outro lado, sobre a chamada II carta, a tradição nos diz que não é testamentária175; ainda assim, por parecer proveitosa a muitos, é tomada em consideração junto com as outras Escrituras.
2.Quanto aos Actos que levam seu nome e o Evangelho dito como seu, assim como a Pregação que se diz ser sua e o chamado Apocalipse, sabemos que de modo algum foram transmitidos entre os escritos católicos, pois nenhum autor eclesiástico, nem antigo nem moderno, utilizou testemunho tirado deles.
3.À medida em que avance esta História farei propositadamente que, junto às sucessões, sejam indicados os escritores eclesiásticos, segundo as épocas, que utilizaram os livros discutidos e quais deles, e também o que dizem dos escritos testamentários e admitidos, e dos que não o são.
4.Pois bem, os escritos que levam o nome de Pedro, dos quais somente uma única carta conhecemos como autêntica e admitida pelos presbíteros antigos, são os já referidos.
5.Por outro lado, é evidente e claro que as catorze cartas são de Paulo. Contudo, não é justo ignorar que alguns rechaçaram a carta aos Hebreus, dizendo que a Igreja de Roma não a admite por crer que não é de Paulo. O que foi dito sobre ela por aqueles que me precederam será exposto a seu devido tempo. Naturalmente, também não aceitei entre os escritos indiscutidos os Actos que se dizem ser dele.
6.Mas, como ocorre que o mesmo apóstolo, nas despedidas finais da carta aos Romanos, menciona, junto com outros, a Hermas - de quem se diz que é o livro do Pastor-, deve-se saber que alguns também rechaçam este livro e que por causa deles não se pode conta-lo entre os admitidos; por outro lado, outros julgam-no muito necessário, especialmente para os que precisam de uma introdução elementar. Por esta razão sabemos que foi lido publicamente nas igrejas e comprovamos que alguns escritores dos mais antigos fizeram uso dele.
7.Baste o dito como exposição de quais são as divinas Escrituras não discutidas e quais são as que nem todos admitem.

175 Isto é, canónica.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quem foi o primeiro que presidiu a Igreja de Roma

Boa Leitura!

1. Depois do martírio de Paulo e de Pedro, o primeiro a ser eleito para o episcopado da Igreja de Roma foi Lino. Ele é mencionado por Paulo quando escreve de Roma a Timóteo, na despedida ao final da carta174.

174 2 Tm 4:21.

Em que partes da terra os apóstolos pregaram sobre Cristo

Boa Leitura!

Livro III

1.Esta era a situação dos judeus, enquanto os santos apóstolos e discípulos de nosso Salvador haviam se espalhado por toda a terra: a Tomás, como quer uma tradição, coube a Partia; a André a Cítia, a João a Ásia, entre os quais170 se estabeleceu, morrendo em Éfeso.
2.Pedro, segundo parece, pregou no Ponto, na Galácia e na Bitínia, na Capadócia e na Ásia171, aos judeus da diáspora; por fim chegou a Roma e foi crucificado com a cabeça para baixo, como ele mesmo pediu para sofrer.
3.E o que dizer de Paulo, que desde Jerusalém até o Ilírico cumpriu com a pregação do Evangelho de Cristo172 e finalmente sofreu martírio em Roma sob Nero? Isto é dito por Orígenes literalmente no tomo III de seus Comentários ao Gênesis173.

170 O autor provavelmente estava pensando nos habitantes, escrevendo "entre os quais" e não "onde".
171 1 Pe 1:1.
172 Rm 15:19.
173 Esta obra de Orígenes está perdida.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Dos inumeráveis males que envolveram os judeus e da última guerra que eles moveram contra os romanos

Boa Leitura!

1.Ao descrever Josefo com todo pormenor as desgraças que se abateram sobre toda a nação judia, além de muitas outras coisas, explica textualmente que muitíssimos judeus dos mais importantes, depois de serem ultrajados com a pena de açoites, foram crucificados por Floro na própria Jerusalém, e que este era procurador da Judéia quando novamente começou a acender-se a guerra, no décimo segundo ano do império de Nero.
2.Depois diz que, após a revolta dos judeus, toda a Síria foi tomada por uma confusão espantosa; por toda parte os próprios habitantes das cidades maltratavam sem piedade os dessa raça, como se fossem inimigos, de forma que se podia ver as cidades repletas de cadáveres insepultos: corpos de anciãos jogados junto aos de crianças, e cadáveres de mulheres sem nada que cobrisse suas nudezes. Toda a província transbordava de calamidades indescritíveis. Mas a violência do que os ameaçava era maior do que os crimes de cada dia. Isto é o que literalmente diz Josefo. Esta era a situação dos judeus.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Da perseguição nos tempos de Nero, na qual Paulo e Pedro foram adornados com o martírio pela religião em Roma

Boa Leitura!

1.Firmado Nero no poder, deu-se a práticas ímpias e tomou as armas contra a própria religião do Deus do universo. Descrever de que maldades foi capaz este homem não é tarefa para a presente obra.
2.Já que, sendo muitos os que transmitiram em relatos precisos suas maldades, quem queira poderá aprender destes sobre a grosseira demência deste homem estranho que, levado por ela e sem a menor reflexão, produziu a morte de inúmeras pessoas e a tal ponto levou seu afã homicida que não se deteve nem mesmo ante os mais chegados e queridos, mas que até a sua mãe, seus irmãos, sua esposa e com eles muitos familiares, fez perecer com variadas formas de morte, como se fossem adversários e inimigos.
3.Mas deve-se saber que a tudo o que foi dito sobre ele faltava acrescentar que foi o primeiro imperador que se mostrou inimigo da piedade para com Deus.
4.Disto faz menção também o latino Tertuliano quando diz: "Leiam vossas memórias. Nelas encontrareis que Nero foi o primeiro a perseguir esta doutrina, principalmente quando, depois de submeter todo o Oriente, em Roma era cruel para com todos. Nós nos ufanamos de ter um assim como autor de nosso castigo, porque quem o conhecer compreenderá que Nero não podia condenar nada que não fosse um grande bem."
5.Assim pois, este, proclamado primeiro inimigo de Deus entre todos os que o foram, levou sua exaltação ao ponto de fazer degolar os apóstolos. De fato, diz-se que sob seu império Paulo foi decapitado na própria Roma, e que Pedro foi crucificado. E disto da fé o título de Pedro e Paulo que predominou para os cemitérios daquele lugar até o presente.
6.Também o confirma um varão eclesiástico chamado Caio, que viveu quando Zeferino era bispo de Roma. Disputando por escrito com Proclo, líder da seita catafriga, diz sobre os lugares onde estão depositados os sagrados despojos dos mencionados apóstolos o seguinte:
7. "Eu, por outro lado, posso mostrar-te os troféus dos apóstolos, porque se queres ir ao Vaticano ou ao caminho de Ostia, encontrarás os troféus dos que fundaram esta igreja169."
8. Que ambos sofreram martírio na mesma ocasião é afirmado por Dionísio, bispo de Corinto, em sua correspondência escrita com os romanos, nos seguintes termos: "Nisto também vós, por meio de semelhante admoestação, fundistes as searas de Pedro e de Paulo, a dos romanos e a dos Coríntios, porque depois de ambos plantarem em nossa Corinto, ambos nos instruíram, e depois de ensinarem também na Itália no mesmo lugar, os dois sofreram martírio na mesma ocasião." Sirva também isto para maior confirmação dos fatos narrados.

169 Refere-se aos sepulcros ou túmulos de Pedro e Paulo.

De como Aniano foi nomeado primeiro bispo da Igreja de Alexandria depois de Marcos

Boa Leitura!

1. Transcorrendo o oitavo ano do império de Nero, o primeiro que recebeu em sucessão o governo
da igreja de Alexandria depois de Marcos foi Aniano.