domingo, 28 de novembro de 2010

Glossolalia V

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Para os puros todas as coisas são puras. Para os corruptos e descrentes nada é puro, perante a sua mente e consciência corrompidas." Tito 1:15

As últimas 3 teorias!

Boa leitura!

(e) A glossolalia Pentecostal foi uma dotação permanente dos apóstolos, de um conhecimento milagroso de todas as línguas estrangeiras no qual pregaram o Evangelho. Como eles foram enviados para pregar a todas as nações, eles foram dotados com as línguas de todas as nações. Esta teoria foi pela primeira vez claramente trazido pelos patriarcas no quarto e quinto séculos, muito depois de o dom de línguas ter desaparecido, e foi guardada pela maioria dos teólogos mais velhos, embora com diferentes modificações, mas agora está abandonada por quase todos os comentadores protestantes excepto o bispo Wordsworth, que defende-la com citações patrísticas. Crisóstomo supôs que cada discípulo foi atribuído uma linguagem particular no qual precisassem para sua evangelização (Hom. em Actos 2). Agostinho foi muito mais longe, dizendo (De Civ Dei, XVIII c. 49..): "Cada um deles falou em línguas de todas as nações, significando assim que a unidade da Igreja Católica abraçaria todas as nações, e nesses moldes falaram em línguas". Alguns limitam o número de línguas para o número de nações estrangeiras e os países mencionados por Lucas (Crisóstomo), outros se alargam a 70 ou 72 (Agostinho e Epifánio), ou 75, após o número de filhos de Noé (Génesis 10), ou mesmo a 120 (Pacianus), após o número dos discípulos presentes. Baronio menciona estes pareceres em Annal. ad Ann. 34, vol. I. 197. A festa das línguas na interpretação Romana perpetua essa teoria, mas transforma o milagre moral de entusiasmo espiritual num milagre mecânico de apreensão de línguas desconhecidas. Foram todos os oradores a falar de uma só vez, como no dia de Pentecostes, o que acabaria por ser mais uma confusão babilónica de línguas.
Tal teoria estupenda como é aqui suposto poder ser justificada, pela importância e alcance desse fenómeno, é sem paralelo e cercada por dificuldades insuperáveis. A teoria ignora o facto de que a glossolalia começou antes de os espectadores chegaram, ou seja, antes que houvesse qualquer necessidade do uso de línguas estrangeiras. Ela isola a glossolalia Pentecostal e conduz a um conflito entre Lucas, Paulo e com ele mesmo, pois em todos os outros casos o dom de línguas aparece, como já se observou, não como uma agência missionária, mas como um exercício de devoção. Isso implica que todos os cem discípulos presentes, incluindo as mulheres - uma língua como que de fogo "pousou sobre cada um deles” - foram chamados para ser evangelistas itinerantes. Um milagre deste tipo seria supérfluo (a Luxuswunder), pois desde a conquista de Alexandre, o Grande, a língua grega foi tão geralmente estendida por todo o (futuro) império romano, que os apóstolos mal necessitariam de qualquer outra - a menos que os ouvintes só entendessem latim, ou fossem nativos Aramaicos - para efeitos de propagação evangélica, de facto o grego foi utilizado por todos os escritores do Novo Testamento, até mesmo por Tiago de Jerusalém, e de uma forma que mostra que eles tinham aprendido como outras pessoas, por formação inicial e prática. Além disso não há qualquer vestígio de um conhecimento tão milagroso, nem qualquer uso dele após Pentecoste280. Pelo contrário, devemos inferir que Paulo não entende o dialecto de Licaônica (Actos 14:11-14), e nós aprendemos desde cedo da tradição eclesiástica que Pedro usou Marcos como intérprete (eJrmhneuv ou "eJrmhneuthv", interprete, de acordo com Papias, Irineu e Tertuliano). Deus não substitui por milagres a aprendizagem de línguas estrangeiras ou outros tipos de conhecimento que podem ser alcançados com o uso normal de nossas faculdades mentais e oportunidades.

(f) Foi uma conversa temporária em idiomas estrangeiros limitada ao dia de Pentecostes e desaparecendo com as línguas de fogo. A excepção foi justificada pelo objecto, ou seja, para atestar a divina missão dos apóstolos e prenunciar a Universalidade do evangelho. Essa visão é tomada pela maioria dos comentadores modernos, que aceitam o relato de Lucas, como Olshausen (que combina com ela, a teoria b), Baumgarten, Thiersch, Rossteuscher, Lechler, Hackett, Gloag, Plumptre (em sua Com. em Actos), e eu (em H. Ap. cap.), é a melhor explicação com o senso comum da narrativa. Mas da mesma forma fazem uma distinção essencial entre o Pentecostes e a glossolalia de Coríntio, que é extremamente improvável. A investidura temporária com o conhecimento de línguas estrangeiras desconhecidas antes, é um milagre tão grande se não for maior do que o fundo permanente de louvor, e seria tão supérflua na época em Jerusalém, como depois em Coríntio, pois o sermão missionário de Pedro, foi feito numa única linguagem, mas era compreensível a todos.

(g) A glossolalia Pentecostal foi essencialmente a mesma que a glossolalia de Coríntio, a saber, um acto de adoração, e não de ensino, apenas com uma ligeira diferença do meio de interpretação: era internamente interpretada de uma só vez, e aplicada pelo próprio Espírito Santo para aqueles ouvintes que acreditaram e se converteram, a cada um na sua própria língua vernácula, enquanto que em Coríntio, a interpretação foi feita por um tradutor em línguas, ou por um pessoa dotada do dom da interpretação.
Não vejo nenhuma autoridade para esta teoria e, portanto, sugiro com modéstia porque parece-me evitar a maioria das dificuldades das outras teorias, e que repõe Lucas em harmonia consigo mesmo e com Paulo. É certo que o Espírito Santo move os corações dos ouvintes, bem como as línguas dos palestrantes no primeiro dia da nova criação em Cristo. De uma forma natural a hetero-glossolalia Pentecostal continua hoje a pregação do evangelho em todas as línguas e em mais de três centenas de traduções da Bíblia.

sábado, 27 de novembro de 2010

Glossolalia IV

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo, fazei penitência e crede no Evangelho." Marcos 1:15

O autor agora vai descrever 7 teorias, (aqui só estão 4 na próxima postagem tem as outras 3) já levantadas para explicar o pentecoste. Algumas teorias mais racionais outras místicas! Infelizmente a quarta, tem mais frases em Alemão (julgo que é essa a língua) do que em Inglês, no qual eu traduzo o respectivo texto, por isso, se alguém souber alemão e quiser traduzir esteja à vontade!

Nota: Para o autor a hetero-glossalia é a glossalia, no qual o falar em línguas, diz respeito também ao ensino em línguas estrangeiras, no qual o Pentecostes, segundo a descrição de Lucas em Actos, é aparentemente a única que se insere!

Boa Leitura!

(a) A interpretação racionalista corta o nó górdio ao negar o milagre, como um engano do narrador ou da tradição cristã primitiva. Mesmo Meyer renuncia a hetero-glossolalia, na medida em que difere da glossolalia de Coríntio, como uma tradição não-histórica que originou num erro, porque ele considera que a súbita comunicação inicial habilitada em falar em línguas estrangeiras como "logicamente impossível, e psicologicamente e moralmente inconcebível" (Com. em Actos 2:4, 4 ª ed.). A dificuldade é que Lucas, o companheiro de Paulo, deve ter se familiarizado com a glossolalia apostólica nas igrejas, e nas duas outras passagens onde ele menciona, evidentemente significam, o mesmo fenómeno descrito por Paulo.

(b) A hetero-glossolalia foi um erro dos ouvintes (a Hörwunder), que no estado de excitação extraordinária e profunda simpatia, imaginavam que ouviam falar as suas próprias línguas pelos discípulos, enquanto Lucas simplesmente narra a sua impressão, sem corrigi-la. Esta opinião foi mencionada (embora não aprovada) por Gregório de Nissa, e mantida pelo Pseudo-Cipriano, o venerável Bede, Erasmus, Schneckenburger e outros. Se a linguagem Pentecostal era o dialecto helenístico, poderia, com seu carácter compósito, seus Hebraísmos e Latinismos, mais facilmente produzir tal efeito quando ditas por pessoas, mexendo no fundo mais íntimo dos seus corações e eleva-los de si mesmos. S. Francisco Xavier é dito que se fez entender pelos hindus sem conhecer sua língua, e São Bernardo, Santo António de Pádua, São Vicente Ferrer foram capazes, pelo poder espiritual de sua eloquência, acender o entusiasmo e a oscilação das paixões das multidões que eram ignorantes de sua língua. Olshausen e Bäumlein chamou a estes fenómenos do magnetismo e sonambulismo, pelo qual as pessoas entram em harmonia misteriosa.

(c) A glossolalia como língua arcaica, com glosses poéticas, e uma mistura de palavras estrangeiras. Essa visão, defendida por Bleek (1829), e adoptada com algumas modificações por Baur (1838), já foi mencionado acima (p. 233), como incompatíveis com o uso helenístico, e o significado natural de Lucas.

(d) A explicação mística que se refere ao dom Pentecostal de Línguas, de alguma forma como contrapartida da confusão de línguas em Babel, quer como a restauração temporária da língua original do Paraíso, ou como uma antecipação profética da linguagem dos céus em que todas as línguas estão unidas. Esta teoria, que é mais profunda do que clara, torna a hetero-glossolalia em um homo-glossolalia, e coloca na linguagem o próprio milagre e a sua restauração temporária ou antecipada. Schelling chama o milagre pentecostal "Babel invertida" (das umgekehrte Babel), e diz: "Dem Ereigniss der Sprachenverwirrung lässt sich in der ganzen Folge der religiösen Geschichte nur Eines an die Seite stellen, die momentan wiederhergestellte Spracheinheit (oJmoglwssiva) am Pfingstfeste, mit dem das Christenthum, bestimmt das ganze Menschengeschlecht durch die Erkenntniss des Einen wahren Gottes wieder zur Einheit zu verknüpfen, seinen grossen Weg beginnt." (Einl. in d. Philos. der Mythologie, p. 109). Um ponto de vista semelhante foi defendido por Billroth (em sua Com. Em 1 Coríntios. 14, p. 177), que sugere que a língua primitiva combinou elementos das diferentes linguagens derivadas, de modo que cada ouvinte ouviu fragmentos de sua autoria. Lange (II. 38) vê aqui a linguagem normal da vida espiritual interior, que une os redimidos, e que atravessa todas as idades da Igreja como o fermento de línguas, que regenera, transforma e consagra as acções espirituais e sagradas, mas ele assume também, como Olshausen, uma relação harmoniosa entre palestrantes e ouvintes. Delitzsch (l.c.p. 1186) diz: Die apostolische Verkündigung erging damals in einer Sprache des Geistes, welche das Gegenbild der in Babel zerschellten Einen Menschheitssprache war und von allen ohne Unterschied der Sprachen gleichmässig verstanden wurde. Wie das weisse Licht alle Farben aus sich erschliesst, so fiel die geistgewirkte Apostelsprache wie in prismatischer Brechung verständlich in aller Ohren und ergreifend in aller Herzen. Es war ein Vorspiel der Einigung, in welcher die von Babel datirende Veruneinigung sich aufheben wird. Dem Sivan-Tag des steinernen Buchstabens trat ein Sivan-Tag des lebendigmachenden Geistes entgegen. Es war der Geburtstag der Kirche, der Geistesgemeinde im Unterschiede von der altestamentlichen Volksgemeinde; darum nennt Chrysostomus in einer Pfingsthomilie die Pentekoste die Metropole der Feste."O ponto de vista de Ewald (VI. 116 sqq.) é igualmente místico, mas original e expressivo com a sua convicção habitual. Ele chama a glossolalia uma "Auflallen und Aufjauchzen der Christlichen Begeisterung, ein stürmisches Hervorbrechen aller der verborgenen Gefühle und Gedanken in ihrer vollsten Unmittelbarkeit und Gewalt." Ele diz que no dia do Pentecostes, as expressões mais inusitadas e os sinónimos das línguas diferentes (como pathvr JO ajbbav, Gal 4:6;. Rom 8:15, e Mara;. Ajqav n 1 Coríntios 16:22.), eram reminiscências das palavras de Cristo como retumbantes do céu, misturadas no turbilhão de uma nova linguagem do Espírito, e exprimindo a alegria exuberante do primitivo cristianismo em balbuciante hinos de louvor nunca ouvidos antes ou desde então, excepto nas manifestações mais fracas do mesmo presente nas igrejas de Coríntio e noutros igrejas apostólicas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quem foram neste tempo os líderes da gnosis de enganoso nome

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.As igrejas de todo o mundo já resplandeciam como astros brilhantíssimos, e a fé em nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo chegava a seu pleno vigor em todo o género humano, quando o demónio, avesso ao bem assim como inimigo da verdade e sempre hostil, demasiadamente, à salvação dos homens, voltou contra a Igreja todas as suas artimanhas. Se em outro tempo suas armas eram as perseguições contra ela, que vinham de fora,
2.agora, em troca, sendo-lhe vedados estes meios e lançando mão de homens malvados e feiticeiros como de funestos instrumentos e ministros da perdição das almas, levam a cabo sua campanha por outros caminhos. Imaginam todos os recursos, como o de que feiticeiros e embusteiros se deslizem sob o próprio nome de nossa doutrina, para assim conduzir ao abismo da perdição os fiéis que conseguem capturar, e aos que não conhecem a fé, com os meios que põe em prática, afastar do caminho que leva à doutrina salvadora.
3.Assim pois, de Menandro, de quem já dissemos que foi sucessor de Simão271, saiu como uma serpente bicéfala e com duas bocas uma força que estabeleceu como autores de duas diferentes heresias Saturnino, antioquenho de origem, e o alexandrino Basílides. Um na Síria e o outro no Egipto constituíram caminhos de ensino de heresias inimigas de Deus.
4.Irineu demonstra que as falsidades ensinadas por Saturnino eram em sua maior partes as mesmas de Menandro, e que Basílides, sob a aparência de coisas mais secretas, estendia suas fantasias até o infinito, forjando as fábulas monstruosas de sua ímpia heresia.
5. Naquele tempo saíram a lutar pela verdade grande número de varões eclesiásticos, e defenderam com bastante eloquência a doutrina apostólica e eclesiástica. Alguns, com seus escritos, inclusive proporcionaram aos que vieram depois os recursos profiláticos contra as referidas heresias.
6.Destes chegou até nós uma eficaz Refutação contra Basílides, de Agripa Castor, famosíssimo entre os escritores de então272.
7.Agripa põe a descoberto a habilidade da impostura daquele homem, pois ao desvelar seus mistérios diz que Basílides havia composto vinte e quatro livros sobre o Evangelho, e que chamava Barcabas e Barcof de profetas seus, e instituía para si alguns de sua própria invenção, aos quais dava nomes bárbaros para deixar pasmos aos que se assombram com tais coisas, e também ensinava que comer alimentos oferecidos aos ídolos e renegar despreocupadamente a fé com juramento em tempos de perseguição eram actos sem importância. A exemplo de Pitágoras, impunha cinco anos de silêncio aos que vinham a ele.
8.O mesmo escritor enumera ainda outras coisas parecidas a estas sobre Basílides e desmascara valentemente o erro da citada heresia.
9.Mas também Irineu escreve que Carpocrates, pai de outra heresia, a denominada dos gnósticos, foi coectâneo daqueles. Estes gnósticos consideravam certo transmitir as magias de Simão, não ocultamente como ele, mas abertamente, quase gabando-se como se fossem grandes coisas, dos filtros amorosos que elaboravam com grande cuidado, de certos espíritos familiares que enviam sonhos e de alguns outros métodos semelhantes. De acordo com isto, ensinavam que os que queriam chegar à perfeição de seus mistérios, melhor dizendo, de suas abominações, tinham que concretizar tudo o que houvesse de mais obsceno, porque, segundo eles, não poderiam escapar aos que chamam de príncipes do mundo senão satisfazendo-os a todos com uma conduta infame.
10.O que realmente ocorreu foi que o demónio, cujo prazer é o mal dos outros, usando de tais ministros, por um lado conduziu à escravidão, para sua perdição, aos que estes conseguiram miseravelmente enganar, e por outro proporcionou aos povos infiéis abundante material de descrédito para a doutrina de Deus, pois a fama daqueles resultava em calúnia para todo o povo cristão.
11.Foi assim que, na maior parte, aconteceu que se divulgasse entre os infiéis de então a ímpia e absurdíssima suspeita de que nós praticássemos inconfessáveis uniões com nossas mães e com nossas irmãs e que usássemos alimentos sacrílegos.
12.Mas o certo é que tudo isso não lhe trouxe proveito por muito tempo, já que a verdade manifestou-se por si mesma e brilhou com uma luz muito intensa com o passar do tempo.
13.De fato, rebatidas pela própria acção da verdade, logo se estenderam as invenções do adversário. As heresias eram inventadas umas depois das outras, as primeiras iam caindo sem interrupção e, cada qual a sua maneira e a seu tempo, se corrompiam e ficavam reduzidas a ideias variadas e multiformes. Em troca, o esplendor da única verdadeira Igreja católica, sempre idêntica a si mesma, crescia e aumentava irradiando a toda a raça dos gregos e dos bárbaros a majestade, a simplicidade, a liberdade, a sobriedade e a pureza da conduta e da filosofia divinas.
14.Em consequência, com o passar do tempo, extinguiram-se também as calúnias contra toda a doutrina, enquanto que somente nosso ensinamento se mantinha vencedor entre todos e com o reconhecimento de ser a que mais sobressai por sua venerabilidade, sua moderação e suas doutrinas sábias e divinas, de forma que ninguém dos de agora se atreve a proferir contra nossa fé uma injúria vergonhosa nem calúnia semelhantes às que anteriormente gostavam de utilizar os que se conjuravam contra nós.
15.E mesmo assim, nos tempos de que falamos, a verdade tomou numerosos defensores seus, que não somente lutaram contra as ímpias heresias com argumentos não escritos, mas também com demonstrações escritas.

271 Vide III:XXVI.
272 Apesar desta fama, perderam-se todos seus escritos, conhecidos apenas por fragmentos conservados por Clemente de Alexandria.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O último assédio de Jerusalém, nos tempos de Adriano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.A rebelião dos judeus tomava novamente maior força e maior extensão. Rufo, governador da Judia, com o reforço militar enviado pelo imperador e tirando partido sem piedade de sua louca temeridade, marchou contra eles. Aniquilou em massa milhares de homens, de crianças e de mulheres, e ao amparo da lei da guerra reduziu seus territórios à escravidão.
2.Mandava então sobre os judeus um chamado Barkokebas, que significa "estrela"270, um homem homicida e bandido, mas que, por seu nome, como se tratasse com escravos, dizia que era luz descida dos céus para eles, e com mágicas enganosas fazia ver aos maltratados que brilhava.
3.Mas a guerra chegou a seu ponto mais grave no décimo oitavo ano do reinado, em Betera, cidadela fortíssima, a pouca distância de Jerusalém. Como demorava longo tempo o assédio que vinha do exterior, os revolucionários viram-se empurrados à extrema ruína pela fome e pela sede, e o causador de sua insensatez pagou a pena merecida. Por decisão e por mandato de uma lei de Adriano proibiu-se a todo o povo judeu dali em diante pôr os pés sequer na região que rodeia Jerusalém, de forma que nem de longe podiam contemplar o solo pátrio. Isto foi contado por Ariston de Pela.
4.Assim foi que a cidade chegou a ficar vazia da raça judia, e foi total a ruína de seus antigos moradores. Pessoas de outra raça vieram a habita-la, e a cidade romana então constituída logo trocou de nome e se chamou Elia, em honra ao imperador Adriano. Mas também a igreja dali veio a ser composta de gentios, e o primeiro que se encarregou de seu ministério, depois dos bispos que procediam da circuncisão, foi Marcos.


270 Mais propriamente "Filho de estrela".

sábado, 20 de novembro de 2010

Glossolalia III

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Ó Deus, a quem eu louvo, não fiques em silêncio." Salmo 109 (108) :1

Resumindo a posição do autor Protestante, ele vê o fenómeno das línguas como um acto de louvor, e não um acto de missionação. Posição que fundamenta-se na glossolalia de Coríntio e Éfeso, cuja interpretação em actos dificilmente se poderia tirar, no entanto fundamenta-se na descrição de Paulo na 1º carta aos Coríntios como podem ver na última postagem. A partir desta descrição, ele vê o 1º Pentecostes como um fenómeno igual, primeiro de louvor e depois de ensino, a única dificuldade é que os Apóstolos sem intermediários, parecem falar a língua dos ouvintes segundo Actos 2:8. Nesta e na próxima postagem, vai tentar conciliar esta aparente contradição do 1º Pentecoste, e do Pentecoste de Coríntio.

Boa Leitura!

(3) A glossolalia Pentecostal não pode ter sido essencialmente diferente da de Corinto: foi também um acto de êxtase de adoração, de agradecimento e de louvor para os grandes feitos de Deus em Cristo, um diálogo da alma com Deus. Foi o mais puro e a maior expressão do entusiasmo jubiloso da Igreja recém-nascida de Cristo na posse do Espírito Santo. Tudo começou antes de os espectadores chegaram (comp. Actos 2:4 e 6), e foi seguido por um discurso missionário de Pedro, em linguagem simples e comum. Lucas menciona novamente o mesmo dom duas vezes (Lucas 10 e 19), evidentemente como um acto de devoção, e não de ensino.

No entanto, de acordo com o significado evidente da narrativa de Lucas, a glossolalia Pentecostal diferiu da dos Coríntios, não só pela sua intensidade, mas também por voltar para os ouvintes, em seguida, em seus próprios dialectos vernáculos, sem o meio de um intérprete humano. Daí o termo "diferentes" línguas, que Paulo não usa, nem Lucas, em qualquer outra passagem, daí o espanto dos estrangeiros ao ouvir cada um em sua própria linguagem peculiar, dos lábios daqueles galileus analfabetos. É esta hetero-glossolalia, como eu posso interpretar, o que provoca a principal dificuldade. Vou dar os vários pontos de vista que negam, ou substituem, ou intensificam, ou tentam, explicar este elemento estranho. (continua)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os bispos de Jerusalém, desde o Salvador até os tempos de Adriano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1. No que tange às datas dos bispos de Jerusalém, nada encontrei conservado por escrito, porque, na verdade, uma tradição268 afirma que tiveram vida muito breve.
2. Do que foi deixado por escrito, consegui tirar a limpo isto: que até o assédio dos judeus, nos tempos de Adriano, houve uma sucessão de bispos em número de quinze, e dizem que desde a origem todos eram hebreus que haviam aceitado sinceramente o conhecimento de Cristo, tanto que aqueles que estavam capacitados a julgá-los consideraram-nos até dignos do cargo de bispos. Naquele tempo, efectivamente, a igreja era toda composta por fiéis hebreus, desde os apóstolos até o assédio dos que então restavam, quando os judeus, novamente separados dos romanos, foram vítimas de grandes guerras.
3. Portanto, como quer que tenham terminado os bispos procedentes da circuncisão naquele momento, talvez seja necessário agora dar sua lista desde o primeiro. O primeiro pois, foi Tiago, o chamado irmão do Senhor; depois dele o segundo foi Simeão; o terceiro, Justo; o quarto, Zaqueu; o quinto, Tobias; o sexto, Benjamim; o sétimo, João; o oitavo, Matias; o nono, Felipe; o décimo, Sêneca; o décimo primeiro, Justo; o décimo segundo, Levi; o décimo terceiro, Efrem; José o décimo quarto e, depois de todos, o décimo quinto, Judas.
4. Estes foram os bispos da cidade de Jerusalém, desde os apóstolos até o tempo de que estamos falando, e todos oriundos da circuncisão.
5. Achava-se o reinado em seu décimo segundo ano269 quando Sixto, que havia cumprido seu décimo ano no episcopado de Roma, foi sucedido por Telesforo, sétimo a partir dos apóstolos. Passando ainda um ano e alguns meses, Eumenes recebe em sucessão a presidência da igreja de Alexandria; segundo a ordem, foi o sexto. Seu predecessor havia permanecido no cargo onze anos.

268 Provavelmente vinda das Memórias de Hegesipo.
269 O décimo segundo ano de Adriano foi 128-129.

Os bispos de Roma e de Alexandria nos tempos deste

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1. No terceiro ano do mesmo reinado, morre Alexandre, bispo de Roma, depois de cumpridos dez anos de governo. Sucedeu-o Sixto. E na igreja de Alexandria, tendo morrido Primo por este mesmo tempo, no duodécimo ano de sua presidência, foi sucedido por Justo.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Os que saíram em defesa da fé nos tempos de Adriano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Depois de Trajano reger o império durante dezanove anos e seis meses, foi sucedido no comando por Elio Adriano. A este Codratos entregou um tratado que lhe havia redigido: uma Apologia composta em defesa de nossa religião, já que, efectivamente, alguns homens malvados tratavam de importunar os nossos. Ainda hoje conserva-se nas mãos de muitos de nossos irmãos; nós também possuímos a obra. Nela podemos ver claras provas da inteligência e rectidão apostólica deste homem.
2.Ele mesmo deixa entrever sua antiguidade nisto que nos conta, em suas próprias palavras: "Mas as obras de nosso Salvador estavam sempre presentes, porque eram verdadeiras: os que haviam sido curados, os ressuscitados dentre os mortos, os quais não foram vistos apenas no instante de serem curados e ressuscitados, mas também estiveram sempre presentes, e não apenas enquanto vivia o Salvador, mas também depois de Ele morrer, todos viveram tempo suficiente, de forma que alguns deles chegaram mesmo aos nossos tempos."
3. Assim era Codratos. Mas também Aristides, homem de fé entregue a nossa religião deixou, assim como Codratos, uma Apologia em favor da fé, que havia dirigido a Adriano. Também a obra deste escritor conservou-se até nossos dias em muitos lugares.

sábado, 13 de novembro de 2010

Glossolalia II

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Senhor, diante de vós estão todos os meus desejos, e meu gemido não vos é oculto." Salmo 38 (37):10

Volto a recomendar a leitura dos capítulos bíblicos citados pelo autor para melhor entender o fenómeno da Golossalia.

Boa Leitura!

(2) A glossolalia na igreja de Corinto, como a de Cesareia, em Actos 10:46, e aquela em Éfeso, 19:6, são evidentemente idênticas, sabemos muito bem a partir da descrição de Paulo. Isso ocorreu no primeiro fulgor de entusiasmo após a conversão e continuou por algum tempo. Não era um falar em línguas estrangeiras, o que teria sido totalmente inútil numa reunião devocional de convertidos, mas falando numa língua diferente de todas as línguas conhecidas, e exigiu um intérprete para ser inteligível para os estrangeiros. Não tinha nada a ver com a propagação do evangelho, embora possa, assim como noutros actos devocionais, tornaram-se um meio de conversão para os infiéis susceptíveis se tais estivessem presentes. Foi um acto de devoção pessoal, um acto de acção de graças, orando e cantando, dentro da congregação cristã, por pessoas que estavam totalmente absorvidas na comunhão com Deus, e deram expressão aos seus sentimentos arrebatadores com quebradas, abruptas, rapsódicas e ininteligíveis palavras. Foi um fenómeno mais emocional do que intelectual, a linguagem de uma excitada imaginação, e não reflexão fria. Era a língua do espírito (pneu'ma) ou de êxtase, como distinta da linguagem do entendimento (nou '"). Poderíamos quase ilustrar a diferença com uma comparação entre o estilo do Apocalipse, que foi concebido pneuvmati RJE (Apoc. 1:10) com a do Evangelho de João, que foi escrito RJE> noi v. O falar em línguas foi um estado de embriaguez espiritual, se podemos usar este termo, análogo ao "frenesi" poético descrito por Shakespeare e Goethe. Sua língua era uma lira em que o Espírito divino tocou melodias celestiais. Ela estava inconsciente ou apenas meia consciente, e mal sabia se ela era "no corpo ou fora do corpo". Ninguém podia compreender esta não meditativa rapsódia religiosa, a menos que estivesse em um transe semelhante. Para um incrédulo forasteiro soou como uma língua bárbara, como o som incerto da trombeta, como o delírio de um maníaco (1 Cor. 14:23), ou a conversa incoerente de um homem embriagado (Actos 2:13, 15) "Aquele que fala em língua não fala aos homens, senão para Deus, ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob acção do Espírito. Aquele, porém, que profetiza fala aos homens para edificá-los, exortá-los e consolá-los. Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a Igreja"(1 Coríntios 14:2-4;. Comp 26-33.).

Os Coríntios, evidentemente, super estimaram a glossolalia, como uma ostentação do poder divino, mas era mais ornamental do que útil, e desapareceu com a estação nupcial da Igreja. É uma marca da grande sabedoria de Paulo, que era um mestre na glossolalia (1Cor. 14:18), atribuiu a esta ainda assim, uma posição subordinada e transitória, restringindo o seu exercício, exigindo uma interpretação dela, e dando preferência para os presentes com utilidade permanente no qual Deus mostra sua bondade e amor para o benefício geral. Falando em línguas é bom, mas profetizar e ensinar no discurso inteligível para a edificação da congregação é melhor, e o exercício activo no amor a Deus e aos homens é o melhor de todos (1 Cor. 13).

Não sabemos quanto tempo a glossolalia, assim descrita por Paulo, continuou. Ela faleceu gradualmente com outros dons extraordinários ou estritamente sobrenaturais da era apostólica. Não é mencionada na Pastoral, nem nas Epístolas Católicas. Temos apenas algumas alusões a ela no final do segundo século. Irineu (Adv. Haer. 1. 6 vc, § 1 º) fala de "muitos irmãos" que ele ouviu na igreja com o dom de profecia e de falar em "línguas diversas" (Pantodapai "glwvssai"), trazendo as coisas ocultas dos homens (Ta; kpuvfia tw'n ajnqpwvpwn) à luz e expondo os mistérios de Deus ("qeou 'tou tav musthvria). Não está claro se pelo termo "diversas", o que não ocorre em nenhum outro lugar, ele quer dizer línguas estrangeiras, ou na variedade de línguas totalmente peculiares, como as entende Paulo. Este último é mais provável. Irineu, ele mesmo teve que aprender a língua da Gália. Tertuliano (Adv. Marc V. 8,.. Comp De Anima, c. 9) obscuramente fala dos dons espirituais, incluindo o dom de línguas, como ainda se manifestava entre os montanistas a quem ele pertenceu. Na época de Crisóstomo o dom tinha desaparecido completamente, pelo menos ele representa o desconhecimento do dom, pela ignorância sobre o facto. Daquele momento em diante a glossolalia era geralmente entendida como um dom miraculoso e permanente de línguas estrangeiras para fins missionários. Mas toda a história das missões não fornece exemplo claro de tal dom para tal finalidade.
Fenómenos análogos, de uma espécie inferior, não milagrosos, no entanto servem como ilustração, seja por aproximação ou com deturpações, reapareceu de vez em quando em épocas de entusiasmo religioso especial, como entre os Camisards e os profetas do Cevennes na França, entre o começo dos Quakers e os metodistas, os mórmons, os leitores ("Läsare") na Suécia em 1841 a 1843, na renovação irlandesa de 1859, e especialmente na “Igreja Católica Apostólica”, normalmente chamada de Irvingites, 1831-1833, e até este dia. Veja Ed. Irving artigos sobre Dons do Espírito Santo chamado Supernatural, em suas "Obras", vol. V., p. 509, etc; Vida Sra. Oliphant de Irving, vol. II;. Descrições citado em meu Hist. Ap. Ch. § 55, p. 198, e de amigo e inimigo em Com Stanley. em Corinto., p. 252, 4 ª ed;. Plumptre também em Smith, IV, "Dict Bíblia,".. 3311, Am. ed. O Irvingites que têm escrito sobre o assunto (Thiersch, Böhm e Rossteuscher) fazem uma distinção muito clara entre a glossolalia Pentecostal em línguas estrangeiras e da glossolalia em Coríntia com reuniões devocionais, e é só com o segundo que eles comparam a sua própria experiência. Vários anos atrás, testemunhei este fenómeno em uma congregação Irvingite em Nova York, as palavras foram quebradas, ejaculatórias e ininteligíveis, mas desataram em anormais e surpreendentes, sons impressionantes, em um estado de inconsciência aparente e êxtase, e sem qualquer controle sobre a língua , que foi apreendido como se fosse por uma potência estrangeira. Um amigo e colega (Briggs), que testemunhou em 1879 na igreja principal Irvingite em Londres, recebeu a mesma impressão.

Nota: A Igreja Católica Apostólica que o autor cita, não é a Igreja Católica Apostólica Romana.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O que padeceram os judeus nos tempos de Trajano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Enquanto o ensinamento de nosso Salvador e sua Igreja floresciam a cada dia e progrediam mais e mais, a ruína dos judeus chegava ao máximo com sucessivas calamidades. Corria já o ano dezoito do imperador266 quando estourou novamente uma rebelião dos judeus que levou à ruína uma enorme multidão dentre eles.
2.Efectivamente, em Alexandria, assim como no resto do Egipto e ainda em Cirene, como que instigados por um espírito terrível e faccioso, amotinaram-se contra seus vizinhos, os gregos. A rebelião cresceu enormemente, e no ano seguinte, sendo então Lupo o governador de todo o Egipto, provocaram uma guerra nada pequena.
3.Ocorreu que no primeiro choque eles venceram aos gregos, os quais, refugiando-se em Alexandria, prenderam os judeus da cidade e mataram-nos. Mas os judeus de Cirene, não recebendo a ajuda que esperavam destes, dedicaram-se a saquear o país do Egipto e a devastar seu nomos, sob o comando de Lucúa267. Contra eles o imperador enviou Márcio Turbon com forças de infantaria e de marinha e inclusive de cavalaria.
4.Este, depois de manter dura luta contra eles em muitas batalhas e durante bastante tempo, deu morte a muitos milhares de judeus não apenas em Cirene, mas também aos que vinham do Egipto, que haviam se sublevado com Lucúa, seu rei.
5.Mas o imperador, suspeitando que também os judeus da Mesopotâmia atacariam os habitantes dali, ordenou a Lusio Quieto que limpasse deles a província. Este organizou também uma batida contra eles e assassinou uma grande multidão, façanha pela qual o imperador nomeou-o governador da Judéia. Estes fatos são relatados também com termos idênticos pelos gregos que puseram por escrito dos acontecimentos de seu tempo.

266 O ano 18 de Trajano, antes de Setembro de 115.
267 O historiador Dion Casio chama este líder de André.

Quais foram os bispos de Roma e de Alexandria sob o reinado de Trajano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

Livro VI

1. Corria o duodécimo ano do reinado de Trajano263, morre o bispo da Igreja de Alexandria, a quem aludimos pouco acima264, e é eleito para o cargo nela Primo, quarto bispo a partir dos apóstolos. Neste tempo também, tendo Evaristo cumprido seu oitavo ano265, o episcopado de Roma passa para Alexandre, quinto na sucessão a partir de Pedro e Paulo.

263 Ano 109-110.
264 O bispo Cerdon.
265 Segundo os dados de Eusébio (vide III:34), Evaristo termina em 108-109.

domingo, 7 de novembro de 2010

Glossolalia I

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"O sol se converterá em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. " Actos 2:20

Aconselho a leram na Bíblia as passagens, que referem ao dom de línguas, para poderem ter uma melhor preparação no que diz respeito a este tema.. As passagens estão em negrito, indicadas pelo o autor. As palavras que não se entende, já vieram assim e meti-as em Itálico..

Boa Leitura!

Notas

I. Glossolalia - O dom de línguas é a característica mais particular do milagre pentecostal. Nossa única fonte directa de informação está em Actos 2, mas em si o dom, é mencionado em outras duas passagens, 10:46 e 19:06, na secção conclusiva do capítulo 16 de Marcos (de autenticidade contestada), e completamente descrito por Paulo em 1 Coríntios 12 e 14. Não pode haver dúvida quanto à existência desse dom na era apostólica, e se tivéssemos apenas em conta o Pentecostes descrito por Lucas, ou apenas a descrição de Paulo, não hesitaríamos em definir quanto à sua natureza, mas a dificuldade aparece na harmonização dos dois.

(1) Os termos empregados para as línguas estranhas (faladas pelos discípulos) são "novas línguas" (Kainai; glw'ssai, Marcos 16:17, onde Jesus promete o dom). "Outras línguas", diferindo da língua comum (e {terai gl Actos 2:4, só aqui é empregado este termo), "tipos" ou "variedades de línguas" (glwssw'n gevnh, 1 Coríntios. 12:28), ou simplesmente, "línguas" (glw'ssai, 1 Coríntios. 14:22) e, no singular, "língua" (glw'ssa, 14:2, 13, 19 27, em que as passagens em E.V. insere a interpolação "língua desconhecida"). Para falar em línguas é chamado (glwvssai "ou lalei'n glwvssh /). (Actos 2:4; 10:46, 19:6;. 1Co 14:2, 4, 13, 14, 19, 27) Paulo usa também a frase "rezar com a língua" (proseuvcesqai glwvssh /), como equivalente a "orando e cantando com o espírito" (Proseuvcesqai e yavllein tw '/ pneuvmati, e que a diferencia da proseuvcesqai e yavllein tw' / v> noi, 1 Coríntios . 14:14, 15). A pluralidade e o termo "diversidade" das línguas, bem como a distinção entre línguas de "anjos" e línguas "de homens" (1 Cor. 13:01) aponta para diferentes manifestações (falar , orar, cantar), de acordo com a individualidade, educação e humor do falante, mas não para várias línguas estrangeiras, que são excluídos pela descrição de Paulo.

O termo língua tem sido diferentemente interpretado.

(A) Wieseler (e Van Hengel): o órgão de expressão, utilizada como um instrumento passivo, falando com a língua apenas, inarticuladamente, e num sussurro baixo. Mas isso não explica o plural, nem os termos "novo" e "outras" línguas, e o órgão oral permanece o mesmo.

(B) Bleek: rara, provincial, arcaica, expressões poéticas, ou lustres (daí o nosso "Glossolalia"). Mas este significado técnico de glw'ssai ocorre apenas nos escritores clássicos (como Aristóteles, Plutarco, etc) e entre os gramáticos, não em grego helenístico, e a interpretação não condiz com a glw'ssa singular e glwvssh / lalei'n, como glw'ssa só poderia significar um único brilho.

(C) A maioria dos comentaristas: são línguas ou dialectos (diavlekto "... Comp, Actos 1:19, 2:6, 8; 21:40, 26:14) Esta é a visão correcta" língua" é uma abreviação para "nova língua "(que foi o termo original, Marcos 16:17). Isso não significa, necessariamente, uma das línguas conhecidas do mundo, mas pode significar um tratamento peculiar do vernáculo dialecto dos pregadores, ou uma nova linguagem espiritual nunca conhecida antes, uma linguagem de inspiração imediata em um estado de êxtase. As "línguas" eram diferentes variedades dessa língua de inspiração.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Milagre do Pentecostes e o nascimento da Igreja Cristã A.D. 30. Parte IV

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Ao proferir estas palavras, todos os seus adversários se encheram de confusão, ao passo que todo o povo, à vista de todos os milagres que ele realizava, se entusiasmava." Lucas 13:17

Boa Leitura!

A primeira hipótese é a interpretação mais natural da escrita de Lucas. No entanto, sugiro outra alternativa, como preferível, pelas seguintes razões: 1. A investidura temporária com um conhecimento sobrenatural de línguas estrangeiras envolve quase todas as dificuldades de um fundo permanente, que hoje é geralmente abandonada, como vai muito além dos dados de factos do Novo Testamento e conhecidos da primeira expansão do Evangelho. 2. A glossolalia começou antes dos espectadores chegarem, ou seja, antes não havia nenhum motivo para o emprego de línguas estrangeiras275. 3. O organismo de intervenção do Espírito harmoniza as três descrições, duas de Lucas, e uma de Paulo, entre o Pentecostes e a glossolalia de Corinto, a única diferença restante é que em Corinto a interpretação das línguas foi feita por homens no discurso audível276, em Jerusalém pelo Espírito Santo na iluminação interior e diligente. 4. O Espírito Santo certamente trabalhou entre os ouvintes, assim como nos pregadores, e encaminhou a conversão de três mil pessoas naquele dia memorável. Se ele aplicou e tornou eficaz o sermão de Pedro, por que não também as anteriores doxologias e bênçãos? 5. Pedro não faz qualquer alusão às línguas estrangeiras, nem a profecia de Joel que ele cita. 6. Esta visão explica melhor o efeito oposto sobre os espectadores. Eles sem intermediário nenhum, conseguiram entender o milagre, mas os zombadores, como aqueles em Corinto277, pensaram que os discípulos estavam fora de seu juízo perfeito e não falavam palavras inteligíveis em seus dialectos nativos, mas absurdos ininteligíveis. O falar em uma língua estrangeira não poderia ter sido uma prova de embriaguez. Pode-se objectar nesta visão, que implica um engano por parte dos ouvintes, ao ouvir as suas línguas-mãe directamente dos pregadores, mas o erro não se referere ao facto em si, mas apenas para a modalidade. Foi o mesmo Espírito que inspirou as línguas dos pregadores e os corações dos sensíveis ouvintes, e levantou as duas acima do nível normal de consciência.
Independentemente da visão que temos desta peculiar característica da glossolalia Pentecostal, nesta aplicação diversificada na cosmopolita multidão de espectadores, foi como uma antecipação simbólica do anúncio profético da universalidade da Religião Cristã, que será proclamada em todas as línguas da Terra unindo todas as nações ao Reino de Cristo. A humildade e o amor da Igreja unida ante o orgulho e o ódio espalhado pela Babilónia. Neste sentido, podemos dizer que a Pentecostal harmonia das línguas era a contrapartida da confusão linguística da Babilónia278..
A Glossolalia foi seguida pelo sermão de Pedro, o acto de devoção, por um acto de ensino, a linguagem extasiante da alma em colóquio com Deus, pela expressão sóbria da ordinária da posse de si em benefício do povo.
Enquanto a multidão reuniu-se para admirar o milagre com diversas emoções diferentes, São Pedro, o homem Pedra, apareceu em nome de todos os discípulos, e lhes falou com clareza e força extraordinária, provavelmente em seu próprio vernáculo aramaico, o que seria mais familiar para os habitantes de Jerusalém, possivelmente, em grego, que seria mais bem compreendido pelos visitantes estrangeiros279. Ele humildemente dignou-se a refutar a acusação de embriaguez, lembrando-os da hora do início do dia, quando até mesmo os bêbados são sóbrios, e explicou a partir das profecias de Joel e o décimo sexto Salmo de David o significado do fenómeno sobrenatural, como mérito de Jesus de Nazaré, a quem os judeus tinham crucificado, mas que foi por palavras e obras, por sua ressurreição dentre os mortos, a sua exaltação à direita de Deus e pela efusão do Espírito Santo, acreditado como o Messias prometido, de acordo com a previsão expressa da Escritura. Então, ele chamou os seus ouvintes a se arrependerem e a serem baptizados em nome de Jesus, como o fundador e chefe do reino celestial, e que ainda que o tivessem crucificado o Senhor e o Messias, poderiam receber o perdão dos seus pecados e o dom do Espírito Santo, cujos trabalhos maravilhosos viram e ouviram nos discípulos.
Este foi o primeiro testemunho independente dos apóstolos, o primeiro sermão cristão: simples, sem adornos, mas cheio de verdades Sagradas, natural, adequado, direccionado, e muito mais eficaz do que qualquer outro sermão até hoje, embora cheio de ensinamentos queimados de eloquência. Resultou na conversão e baptismo de três mil pessoas, reunidas como primícias dos celeiros da Igreja.
Nestes primeiros frutos do Redentor glorificado, e nesta fundação da nova economia do Espírito e do Evangelho, em vez da velha teocracia da lei e do direito, o significado típico do Pentecostes judaico era gloriosamente cumprido. Mas este dia de nascimento da Igreja Cristã é, por sua vez só o começo, o tipo e o penhor, de uma colheita espiritual ainda maior e uma festa universal de acção de graças, quando, no pleno sentido da profecia de Joel, o Espírito Santo será derramado sobre toda a carne, quando todos os filhos e filhas dos homens andarão em sua luz, e Deus seja louvado em novas línguas de fogo pela conclusão de sua obra maravilhosa de amor redentor.


275 Comp. Actos 2:4 e 6.
276 1Cor. 14:5, 13, 27, 28, comp. 1 Coríntios. 12:10, 30.
277 Comp. 1 Coríntios. 14:23.
278 Grotius (em loc.): "Paena linguarum dispersit homines, donum linguarum dispersos in unum populum collegit.". Veja nota sobre a Glossolalia (p.17).

279 A primeira é a visão habitual, a último é mantido por Stanley, Plumptre e Farrar.
Paulo dirige-se à multidão excitada em Jerusalém na língua hebraica, que originou maior silêncio, Actos 22:02. Isto implica que eles não o teriam entendido em grego tão bem, ou ouvido tão atentamente.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Dos escritos de Papias

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1. Diz-se que são cinco os escritos de Papias, sob o título de Explicações das palavras do Senhor. Irineu os menciona como os únicos escritos de Papias; assim diz: "Isto também atesta por escrito Papias, que foi ouvinte de João, companheiro de Policarpo e varão dos antigos, no quarto livro dos que escreveu, porque efectivamente tem cinco livros escritos."
2.Isto é o que diz Irineu. O próprio Papias no entanto, segundo o prólogo de seus tratados, não se apresenta de modo algum como ouvinte e testemunha ocular dos sagrados apóstolos, mas ensina-nos que recebeu o referente à fé da boca de outros que os conheceram, estas são suas palavras:
3."Não vacilarei em apresentar-te ordenadamente com as interpretações tudo o que um dia aprendi muito bem dos presbíteros e que recordo bem, seguro que estou de sua verdade. Porque eu não me comprazia como outros com os que falam muito, mas com os que ensinam a verdade; nem tampouco com os que recordam mandamentos alheios, mas com os que trazem na memória os (mandamentos) que receberam pela fé da parte do Senhor e nascem da própria verdade.
4.E se por acaso chegava alguém que também havia seguido os presbíteros, eu procurava discernir as palavras dos presbíteros: o que disse André, ou Pedro, ou Felipe, ou Tomás, ou Tiago, ou João, ou Mateus ou qualquer outro dos discípulos do Senhor, porque eu pensava que não aproveitaria tanto o que tirasse dos livros como o que provêm de uma voz viva e durável."
5. Aqui seria bom fazer notar também que ele enumera duas vezes o nome de João. O primeiro coloca na lista com Pedro, Tiago, Mateus e os demais apóstolos, sendo evidente que se refere ao evangelista; já ao outro João, depois de cortar o discurso, coloca-o com outros, fora do número dos apóstolos, antepondo Aristion e chamando-o claramente de presbítero.
6.De forma que também isto demonstra que é verdade a história dos que dizem que na Ásia houve dois com este mesmo nome, e em Éfeso dois sepulcros, dos quais ainda hoje se afirma que são, um e outro, de João. É necessário prestar atenção a estes fatos, porque é provável que fosse o segundo - se não se prefere o primeiro - o que viu a Revelação (= Apocalipse) que corre sob o nome de João.
7.Agora bem, Papias, de quem estamos falando, confessa que recebeu as palavras dos apóstolos de discípulos destes, enquanto que de Aristion e de João o Presbítero ele diz ter sido ouvinte directo. Efectivamente menciona-os pelo nome várias vezes em seus escritos e compila suas tradições.
8.E não se diga que por nossa parte é inútil o dito. Mas é justo adicionar às palavras de Papias já citadas outros ditos seus com os quais se refere a algumas coisas estranhas e outros detalhes que, segundo ele, chegaram-lhe pela tradição.
9.Pois bem, já foi explicado mais acima que o apóstolo Felipe morou em Hierápolis com suas filhas, mas agora há que se assinalar como Papias, que viveu nesse mesmo tempo, faz menção de haver recebido um relato maravilhoso da boca das filhas de Felipe. Narra efectivamente a ressurreição de um morto ocorrida em seu tempo e, como se fosse pouco, outro fato portentoso referente a Justo, apelidado Barsabás, pois aconteceu que este bebeu uma poção mortal sem que, pela graça do Senhor, sofresse qualquer dano.
10.Depois da ascensão do Salvador, os sagrados apóstolos puseram este Justo junto com Matias e oraram sobre eles para que a sorte completasse seu número em lugar do traidor Judas; conta-o o livro dos Actos da seguinte maneira: E puseram dois: José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias. E orando sobre eles disseram261.
11.O próprio Papias conta também outras coisas como tendo chegado a ele por tradição não escrita, algumas estranhas parábolas do Salvador e de sua doutrina, e algumas outras coisas ainda mais fabulosas.
12.Entre elas diz que, depois da ressurreição dentre os mortos, haverá um milénio, e que o reino de Cristo se estabelecerá fisicamente sobre esta terra. Eu creio que Papias supõe tudo isto por haver derivado das explicações dos apóstolos, não percebendo que estes haviam-no dito figuradamente e de modo simbólico.
13.E aparece como homem de muito escassa inteligência, segundo se pode supor por seus livros. Mesmo assim, ele foi o culpado de que tantos escritores eclesiásticos depois dele tenham abraçado a mesma opinião que ele, apoiando-se na antiguidade de tal varão, como realmente faz Irineu e qualquer outro que manifeste professar ideias parecidas.
14.Em sua própria obra Papias transmite ainda outras interpretações das palavras do Senhor recebidas de Aristion, mencionado acima, assim como também outras tradições de João o Presbítero. A elas remetemos a quantos queiram instruir-se. Agora nos vemos obrigados a acrescentar às suas palavras anteriormente citadas uma tradição acerca de Marcos, o que escreveu o Evangelho, que vem exposta nos termos seguintes:
15."E o presbítero dizia isto: Marcos, que foi intérprete de Pedro, pôs por escrito, ainda que não com ordem, o quanto recordava do que o Senhor havia dito e feito. Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas, como disse, a Pedro mais tarde, o qual transmitia seus ensinamentos segundo as necessidades e não como quem faz uma composição das palavras do Senhor, mas de tal forma que Marcos em nada se enganou ao escrever algumas coisas tal como as recordava.
E pôs toda sua preocupação em uma só coisa: não descuidar nada de quanto havia ouvido nem enganar-se nisto o mínimo."
16.Isto é o que conta Papias sobre Marcos. Referente a Mateus, diz o seguinte: "Mateus ordenou as sentenças em língua hebraica, mas cada um as traduzia como melhor podia."
17.O mesmo escritor utiliza testemunhos tomados da primeira carta de João, e igualmente da de Pedro, e expõe também outro relato de uma mulher acusada de muitos pecados ante o Senhor, que está contido no Evangelho dos hebreus262. Que conste também isto, além do que já havia exposto.

261 Act 1:23-24.
262 Eusébio apenas assinala que o relato se encontra em Papias e no Evangelho dos hebreus. É muito possível que se trate
do mesmo que consta em Jo 7:53-8:11.