domingo, 25 de abril de 2010

De como, depois de Tibério, Caio estabeleceu Agripa como rei dos judeus e castigou Herodes com o desterro perpétuo

Boa Leitura!

1. Morreu pois Tibério depois de reinar por cerca de vinte e dois anos. Depois dele tomou o poder Caio112, que em seguida pôs sobre Agripa a coroa do comando sobre os judeus, fazendo-o rei das tetrarquias de Felipe e de Lisanias, às quais não muito depois juntou a de Herodes, depois de condenar este (que era o Herodes do tempo da paixão do Salvador), junto com sua mulher Herodías, ao desterro perpétuo por causa de seus muitos crimes, Josefo também é testemunha destes fatos.
2.Por este tempo tornava-se conhecido por muitos um tal Fílon, varão notabilíssimo, não somente entre os nossos mas também entre os que procediam de uma educação profana. Descendia de família hebréia, mas não era em nada inferior aos que brilhavam por sua autoridade em Alexandria.
3.A extensão e a qualidade de seus trabalhos acerca das ciências divinas pátrias se evidencia por sua obra, e quanto a sua capacidade para os conhecimentos filosóficos e os estudos liberais da educação profana, nada há que dizer quando a história dá conta de seu cuidado especial pelo estudo da filosofia de Platão e de Pitágoras ao ponto de suplantar todos seus contemporâneos.

112 Caio César Augusto Germânico, mais conhecido como Calígula.

terça-feira, 20 de abril de 2010

De como a doutrina de Cristo em pouco tempo se propagou por todo o mundo

Boa Leitura!

1. Assim, sem dúvida por uma força e uma assistência de cima, a doutrina salvadora, como um raio de sol, iluminou subitamente toda a terra habitada. De pronto, conforme as divinas Escrituras, a voz de seus evangelistas inspirados e de seus apóstolos ressoou em toda a terra, e suas palavras nos confins do mundo108.
2.Efetivamente, por todas as cidades e aldeias, como numa época fervilhante, constituíam-se em massa igrejas formadas por multidões inumeráveis. Os que por herança ancestral e por um antigo erro tinham suas almas presas da antiga moléstia da superstição idólatra, pelo poder de Cristo e graças ao ensinamento de seus discípulos e aos milagres que os acompanhavam, tendo rompidas suas penosas prisões, afastaram-se dos ídolos como de amos terríveis e cuspiram fora todo o politeísmo demoníaco e confessaram que não há mais do que um só Deus: o criador de todas as coisas. E a este Deus honraram com os ritos da verdadeira religião por meio de um culto divino e racional, o mesmo que nosso Salvador semeou na vida dos homens.
3.Pois bem, como quer que a graça divina já se difundisse pelas demais nações, e em Cesaréia da Palestina Cornélio e toda sua casa haviam sido os primeiros a aceitar a fé em Cristo por meio de uma aparição divina e do ministério de Pedro, também em Antioquia ela foi aceita por toda uma multidão de gregos aos quais haviam pregado os que foram dispersados quando da perseguição contra Estevão109. A Igreja de Antioquia já florescia e se multiplicava quando, estando presentes numerosos profetas chegados de Jerusalém110, e com eles Barnabé e Paulo, além de uma multidão de outros irmãos, pela primeira vez o nome de Cristãos brotou dela, como de uma fonte caudalosa e fecundante.
4.Ágabo era também um dos profetas que estava com eles e predizia como iminente uma grande fome, devido a isto Paulo e Barnabé foram enviados para pôr-se a serviço da assistência aos irmãos"111.

108 Sl 18:5 (19:4); Rm 10:18.
109 At 11:19-26.
110 At 11:27.
111 At 11:28-30.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Da emoção de Tibério ao ser informado por Pilatos dos feitos referentes a Cristo

Boa Leitura!

1. A fama da assombrosa ressurreição de nosso Salvador e de sua ascensão aos céus já havia alcançado a grande maioria. Havia sido imposto aos governadores das nações o antigo costume de informar o ocupante do cargo imperial de todas a novidades ocorridas em suas regiões, para que nada escapasse de seu conhecimento. Pilatos portanto informou ao Imperador Tibério sobre tudo o que corria de boca em boca por toda a Palestina sobre a ressurreição de nosso Salvador Jesus de entre os mortos.
2.Informou-o também de seus outros milagres e de que o povo já acreditava que ele era Deus, porque depois de sua morte ressuscitou de entre os mortos. Diz-se que Tibério levou o assunto ao senado, e que este o rechaçou, aparentemente porque não o havia aprovado previamente - pois uma antiga lei prescrevia que, entre os romanos, ninguém poderia ser divinizado se não o fosse por voto e por decreto do senado -, mas na realidade era porque a doutrina salvadora da pregação divina não necessitava de ratificação nem de recomendação vinda dos homens.
3.Desta forma pois, o senado romano rechaçou o informe apresentado sobre nosso Salvador. Tibério, por outro lado, conservou sua primeira opinião e não tramou nada de errado contra a doutrina de Cristo.
4.Tertuliano, fiel conhecedor das leis romanas, homem insigne por outros méritos e ilustríssimo em Roma, expõe todos estes fatos em sua Apologia pelos cristãos, que escreveu no próprio idioma romano e que está traduzida em língua grega, expressando-se textualmente como segue:
5."Mas, para que discutamos partindo da origem de tais leis, existia um antigo decreto de que ninguém podia ser consagrado como deus antes de ser aprovado pelo senado. Marco Emílio assim o fez a respeito de certo ídolo, Alburno. Também isto vai a favor de nossa doutrina: que entre vós a divindade seja outorgada por arbítrio dos homens. Se um deus não agrada ao homem, não chega a ser deus. Assim, quanto a isto, convém que o homem seja propício a Deus!
6.Tibério, pois, sob o qual apareceu no mundo o nome de cristão, quando lhe anunciaram esta doutrina procedente da Palestina, onde primeiro começou, comunicou-o ao senado, explicando aos senadores que dita doutrina o agradava. Mas o senado a rechaçou por não tê-la aprovado previamente. Tibério, por outro lado, persistiu na sua declaração e ameaçou de morte aos acusadores dos cristãos."
A providência celestial tinha disposto este ânimo ao imperador a fim de que a doutrina do Evangelho tivesse um início livre de obstáculos e se propagasse por toda a terra.

domingo, 11 de abril de 2010

Da vida dos apóstolos depois da ascensão de Cristo II

Boa Leitura!

9.Neste tempo também Paulo ainda assolava a Igreja: entrava nas casas dos fiéis, arrancava à força os homens e mulheres e os encarcerava100.
10.Mas também Felipe, um dos que foram escolhidos para o serviço junto com Estêvão e que se achava entre os dispersos, desceu a Samaria e cheio do poder divino, foi o primeiro a pregar a doutrina aos Samaritanos. Tão grande era a graça divina que operava nele, que atraiu com suas palavras o próprio Simão Mago e uma grande multidão101.
11.Por aquele tempo Simão tinha conseguido tamanha fama com seu mágico poder sobre os iludidos que ele mesmo acreditava ser o grande poder de Deus. Foi então que, pasmo ante as incríveis maravilhas operadas por Felipe com o poder divino, infiltrou-se e levou o fingimento de sua fé em Cristo ao ponto de ser baptizado102.
12.O que também é de admirar é que até agora aconteça o mesmo com os que ainda hoje compartilham de sua terrível heresia, os quais, fiéis ao método de seu antepassado se infiltram na Igreja como sarna pestilenta, e causam o maior estrago àqueles em quem conseguem inocular o veneno incurável e terrível oculto neles. Mesmo assim, a maioria já foi expulsa à medida que foram surpreendidos nesta perversidade, como o mesmo Simão, quando Pedro o desmascarou e o fez pagar o merecido.
13.Mas, enquanto dia a dia a pregação salvadora ia progredindo, alguma disposição da providência trouxe para fora da Etiópia um nobre da rainha daquele país, que ainda hoje em dia, segundo costume ancestral, é regido por uma mulher103. Este nobre, primeiro dos gentios a conhecer os mistérios da doutrina divina, por ter encontrado Felipe104, e primogénito dos crentes no mundo, segundo refere um documento, depois de regressar à terra pátria, foi o primeiro a anunciar a boa nova do conhecimento do Deus de todas as coisas e a função vivificadora de nosso Salvador entre os homens, devido a isto, graças a ele, realizou-se a profecia que diz: Etiópia corre a estender suas mãos a Deus105.
14.Além dos citados, Paulo, o instrumento escolhido106 não por parte dos homens nem por meio dos homens, mas por revelação do próprio Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou de entre os mortos, foi proclamado apóstolo: uma visão e uma voz do céu107 no momento da revelação o consideraram digno da chamada.

100 At 8:3.
101 At 8:5-13.
102 At 8:13.
103 Não mais ao tempo de Eusébio, mas da fonte por ele consultada.
104 At 8:26-39.
105 Sl 67:32 (68:31).
106 At 9:15.
107 At 9:3-6; 22:6-9; 26:14-19.

domingo, 4 de abril de 2010

Da vida dos apóstolos depois da ascensão de Cristo I

Vou começar com o Livro II, onde Eusébio de Cesareia relata a vida Apostólica! Os textos são muito menos técnicos como os da Historiografia moderna, por isso o autor passa mais em vista os factos e os testemunhos do que propriamente os estuda!

Boa Leitura!
1.O primeiro pois, que a sorte designou para o apostolado em substituição a Judas o traidor, foi Matias, que também tinha sido um dos discípulos do Salvador, como já foi provado. Por outro lado os apóstolos, mediante a oração e imposição das mãos, instituem ainda com destino ao ministério e para o serviço comum, a alguns homens de boa reputação, em número de sete: Estevão e seus companheiros94. Também foi Estevão, depois do Senhor e quase no momento em que recebia a imposição de mãos, como se o tivessem promovido para isto mesmo, o primeiro a ser morto a pedradas pelos mesmos que mataram o Senhor95, e desta maneira o primeiro também a levar a coroa, a que alude seu nome, dos vitoriosos mártires de Cristo.
2.Naquele tempo também Tiago, o chamado irmão do Senhor96 - porque também ele era chamado filho de José; pois bem, o pai de Cristo era José, já que estava casado com a Virgem quando, antes que convivessem descobriu-se que havia concebido do Espírito Santo, como ensina a Sagrada Escritura dos evangelhos -; este mesmo Tiago pois, a quem os antigos puseram o sobrenome de Justo, pelo superior mérito de sua virtude, refere-se que foi o primeiro a quem se confiou o trono episcopal da Igreja de Jerusalém.
3.Clemente, no livro VI das Hypotyposeis, adiciona o seguinte: "Porque -dizem - depois da ascensão do Salvador, Pedro, Tiago e João, mesmo tendo sido os preferidos do Salvador, não tomaram para si esta honra, mas elegeram como bispo de Jerusalém Tiago o Justo."
4.E o mesmo autor, no livro VII da mesma obra, diz ainda sobre ele o que segue: "O Senhor, depois de sua ascensão, fez entrega do conhecimento a Tiago o Justo, a João e a Pedro, e estes o transmitiram aos demais apóstolos, e os apóstolos aos setenta, um dos quais era Barnabé.
5.Houve dois Tiagos: um, o Justo, que foi lançado do pináculo do templo e morto a golpes com um bastão; e o outro, o que foi decapitado." Também Paulo menciona Tiago o Justo quando escreve: Outro apóstolo não vi além de Tiago, o irmão do Senhor97.
6.Por este tempo também se cumpriu o prometido por nosso Salvador ao rei de Osroene, pois Tomás, por impulso divino, enviou Tadeu a Edessa como arauto e evangelista da doutrina de Cristo, como acabamos de provar com documentos ali encontrados98.
7.Tadeu, estando no lugar, cura a Abgaro pela palavra de Cristo e deixa pasmos com seus estranhos milagres a todos os presentes99. Quando já os tinha bastante predispostos com suas obras conduziu-os à adoração do poder de Cristo, e acabou fazendo-os discípulos da doutrina do Salvador. Desde então e até hoje toda a cidade de Edessa está consagrada ao nome de Cristo, dando assim prova nada comum dos benefícios que nosso Salvador lhes fez.
8.Baste o que foi dito, tomado de antigos relatos, e voltemos outra vez à Sagrada Escritura. Em seguida ao martírio de Estevão produziu-se a primeira e grande perseguição contra a Igreja de Jerusalém por parte dos mesmos judeus. Todos os discípulos, exceto os doze, dispersaram-se por toda a Judéia e Samaria. Alguns, segundo diz a Escritura divina, chegaram à Fenícia, Chipre e Antioquia. Não estavam ainda preparados para ousar compartilhar com os gentios a doutrina da fé, e assim anunciaram-na somente aos judeus. (continua)

94 At 6:1-6.
95 At 7:58-59.
96 Gl 1:19.
97 Gl 1:19.
98 vide I:XIII:5.
99 vide I:XIII: 11-18.