domingo, 19 de dezembro de 2010

Tempo e Lugar I

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Chamou ao segundo Efraim, 'porque, disse ele, Deus fez-me crescer na terra de minha aflição.'" Génesis 41:52

Boa Leitura!

III. TEMPO E LUGAR, do Pentecostes. Será que ele ocorreu num dia de Senhor (o oitavo depois da Páscoa), ou no sábado judaico? Numa casa particular, ou no Templo? Julgámos que foi no Dia do Senhor, e numa casa privada. Mas as opiniões estão muito divididas, e os argumentos quase equilibrados.

(1) A escolha do dia da semana depende em parte da interpretação de "o dia depois do sábado (Páscoa)", no qual o quinquagésimo dia era para ser contado, de acordo com a prescrição legislativa em Lv. 23:11, 15, 16, ou seja, se foi no dia seguinte após o primeiro dia da Páscoa, ou seja, o 16 de Nisan, ou no dia depois do sábado regular na semana Páscoa. Em certa medida a data da crucificação de Cristo, ocorreu numa sexta-feira, a saber, se esta foi a 14 ou 15 de Nisan. Se assumirmos que a sexta-feira da morte de Cristo foi o 14 de Nisan, o 15 foi num sábado, e o Pentecostes nesse ano, tem que cair no domingo, mas se a sexta-feira da crucificação foi o 15 de Nisan (como eu defendo, ver § 16, p. 133), então o Pentecostes cai num sábado judaico (assim Wieseler, que fixa-o no sábado, 27 de maio, 30 dC), a menos se contarmos a partir do final do dia 16 de Nisan (como Wordsworth e Plumptre fazem, no qual colocam o Pentecostes no Domingo). Mas se tomarmos o "sábado" em Lv. 23 no sentido usual do sábado semanal (como os saduceus e Caraítas fazem), então o Pentecostes judaico sempre cai num domingo. Em todo o caso a igreja cristã tem uniformemente observado o WhitSunday (expressão Inglesa para referir o Domingo do Pentecostes) no oitavo dia do Senhor depois da Páscoa, aderindo, neste caso, bem como nas festas da ressurreição (domingo) e da ascensão (quinta-feira), a antiga tradição, para o dia da semana quando ocorreu o evento. Essa visão seria fornecer uma razão adicional para a transferência do Domingo, do dia da ressurreição do Senhor e da descida do Espírito Santo, para o sábado judaico. Wordsworth: "Assim, o primeiro dia da semana, foi consagrada a todas as três Pessoas da Santíssima Trindade sempre abençoadas e indivisíveis, e as bênçãos da criação, redenção e santificação são comemorados no Domingo cristão". Wieseler assume, sem uma boa razão, que a antiga igreja deliberadamente alterou o dia, em oposição ao sábado judaico, mas a celebração do Pentecostes, juntamente com a da Ressurreição, parece ser tão antiga como a igreja cristã e tem seu precedente no exemplo de Paulo, Actos 18:21; 20:16 .- Lightfoot (Hebr Horae em Acta Ap 2:1;... Opera II 692) conta o Pentecostes partir de 16 de Nisan, mas mesmo assim coloca o primeiro Pentecostes cristão num Domingo por um interpretação inusitada e questionável de Actos 2:1 RJE tw '/ sunplhrou'sqai ª; ª hJmevran n' "Penthkosth", que ele faz dizer "quando o dia de Pentecostes havia ido embora," em vez de "foi plenamente alcançado". Mas se o Pentecostes caiu num sábado judaico ou num dia do Senhor, a coincidência nos dois casos foi significativa.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O que se recorda sobre Policarpo, discípulo dos apóstolos

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Nos tempos aludidos e estando Aniceto à cabeça da igreja de Roma, conta Irineu que Policarpo ainda vivia e que veio a Roma para conversar com Aniceto por causa de certa questão acerca do dia da Páscoa.
2.O mesmo escritor nos transmite outro relato acerca de Policarpo, que é necessário acrescentar ao que dele se disse. É o que segue:

TOMADO DO LIVRO III DOS DE IRINEU CONTRA AS HERESIAS.

3."E também Policarpo. Não somente foi instruído pelos apóstolos e conviveu com muitos que haviam visto o Senhor, mas também foi instituído bispo da Ásia pelos apóstolos, na igreja de Esmirna. Nós inclusive o vimos em nossa idade juvenil.
4.Já que viveu muitos anos e morreu muito velho, depois de dar glorioso e esplêndido testemunho. Sempre ensinou o que havia aprendido dos apóstolos, que é também o que a Igreja transmite e o único que é verdade.
5.Disto dão testemunho todas as igrejas da Ásia e os que até hoje sucederam a Policarpo, que é um testemunho da verdade muito mais digno de fé e muito mais seguro que Valentim, que Márcion e que o resto, de juízo corrompido. E estando de passagem por Roma nos tempos de Aniceto, reconduziu muitos dos hereges acima mencionados à igreja de Deus, pregando-lhes que única e exclusivamente havia recebido dos apóstolos esta verdade: o que transmite a Igreja.
6.E há quem o tenham ouvido dizer que João, o discípulo do Senhor, indo banhar-se em Éfeso e tendo visto Cerinto nos banhos, saltou para fora das termas sem ter-se banhado e disse: "Fujamos, não ocorra que também as termas venham abaixo por estar dentro Cerinto, o inimigo da verdade277."
7.E o mesmo Policarpo, quando uma vez Márcion fez-se encontrar e lhe disse: "Reconhece-nos", respondeu-lhe: "Reconheço-te. Reconheço o primogênito de Satanás." Era tal a cautela que tinham os apóstolos e seus discípulos para não comunicar-se sequer por palavra com nenhum falsificador da verdade, que o próprio Paulo disse: Ao herege, depois de primeira e segunda advertência, rechaçao, pois sabes que este está perdido e peca, condenando a si mesmo278."
8."Há também uma carta de Policarpo, escrita aos filipenses, importantíssima, pela qual podem conhecer a índole de sua fé e sua mensagem da verdade aqueles que o queiram e que se preocupam com sua própria salvação."
9.Isto disse Irineu. Quanto a Policarpo, na mencionada carta sua aos filipenses, conservada até o presente, faz uso de alguns testemunhos tomados da primeira carta de Pedro.
10.A Antonino, o chamado Pio, depois de cumpridos seus vinte e dois anos de governo, sucedeu seu filho Marco Aurélio Vero, também chamado Antonino, junto com seu irmão Lúcio.


277 Vide III:XXVIII:6.
278 Tt 3:10-11.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Da Apologia de Justino dirigida a Antonino

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1. "Ao imperador Tito Elio Adriano Antonino Pio César Augusto, e a Veríssimo274, seu filho, filósofo, e a Lúcio, filho por natureza do césar, filósofo, e de Pio por adopção, amante do saber, e ao sagrado senado e a todo o povo romano, em favor dos homens de toda raça injustamente odiados e caluniados: Eu, Justino, filho de Prisco, que o era por sua vez de Bacquio, oriundo de Flavia Neápolis, da Síria, Palestina, e um deles, compus este discurso e esta súplica." O próprio imperador foi solicitado também por outros irmãos da Ásia, importunados com toda sorte de insolência pela população local, e julgou bom enviar ao concilio da Ásia o seguinte transcrito:

Uma carta de Antonino ao concilio da Ásia sobre a nossa doutrina

1."O imperador César Marco Aurélio Antonino Augusto Arménio, pontífice máximo, tribuno da plebe pela décima quinta vez, cônsul por três vezes, ao concilio da Ásia, saudações275;
2.Eu sei que também os deuses se ocupam de que estes não permaneçam ocultos. Efectivamente, eles castigariam muito mais do que vós aos que não queiram adorá-los.
3."A estes estais empurrando para a agitação, uma vez que os confirmais na doutrina que professam acusando-os de ateus. Para eles seria preferível, assim acusados, parecer que morreram por seu próprio Deus a seguir vivendo. Por isso inclusive estão vencendo, porque entregam suas próprias vidas em vez de obedecer ao que vós pretendeis que façam.
4.Quanto aos terremotos passados e actuais, não será demais recordar-vos que vos sentis acovardados quando chegam, e comparais nossa situação à sua.
5.Eles, efectivamente, têm muito maior confiança em Deus, enquanto que vós, em todo o tempo pareceis estar em completa ignorância, descuidais dos outros deuses e do culto ao imortal. Os cristãos o adoram, e vós os maltratais e perseguis até a morte.
6.Em favor destes já escreveram a nosso diviníssimo pai276 muitos governadores das províncias, aos quais respondeu que em nada fossem aqueles molestados, a não ser que fosse evidente que empreendiam algo contra o poder público de Roma. Também a mim muitos me falaram sobre eles, e também respondi seguindo o parecer de meu pai.
7.Mas se alguém persistir em levar algum deles ao tribunal apenas por ser deles, fique o acusado livre de encargos, ainda que seja evidente que é cristão; por outro lado, o acusador ficará sujeito a castigo. "Publicado em Éfeso, no concilio da Ásia."
8.Que assim sucederam as coisas é atestado pelo bispo da igreja de Sardes, Meliton, célebre naquela época, pelo que se percebe na Apologia que dirigiu ao imperador Vero em favor de nossa doutrina.


274 O futuro imperador Marco Aurélio.
275 Eusébio não chega a se entender com os nomes nem com os títulos dos imperadores, pois anuncia uma carta de Antonino mas o cabeçalho é de Marco Aurélio, e ainda assim com falhas.
276 Se a carta é de Marco Aurélio, como indica o cabeçalho, refere-se a Antonino, mas se o autor é Antonino, alude a Adriano.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quem foram os bispos de Roma e de Alexandria sob o reinado de Antonino

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1. Depois de pagar este sua dívida, depois de vinte e um anos, o Império romano é recebido em sucessão por Antonino, o chamado Pio. Em seu primeiro ano morre Telesforo, que cumpria o décimo primeiro de seu ministério, e Higinio assume o episcopado de Roma. Conta Irineu que Telesforo abrilhantou sua morte com o martírio, e no mesmo lugar declara que, nos tempos do mencionado bispo de Roma Higinio, eram notórios em Roma estes dois: Valentim, introdutor de sua própria heresia, e Cerdon, causador do erro de Márcion. Escreve assim:

Dos heresiarcas daqueles tempos

1."Valentim veio a Roma, realmente, nos tempos de Higinio, mas floresceu sob Pio e permaneceu até Aniceto. E Cerdon, o antecessor de Márcion -também no tempo de Higinio, que foi o nono bispo -, assim que chegou à Igreja, depois de fazer confissão pública, passava sua vida assim: algumas vezes ensinava às escuras e outras vezes via refutadas suas doutrinas, e ia se afastando da companhia dos irmãos."
2.Isto diz em seu livro terceiro dos escritos Contra as heresias. Mesmo assim, também no primeiro explica o que segue sobre Cerdon: "Um tal Cerdon, que vinha do círculo de Simão e residia em Roma no tempo de Higinio - o nono na sucessão do episcopado a partir dos apóstolos -, andava ensinando que o Deus proclamado pela Lei e os Profetas não era Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, já que um é conhecido e o outro desconhecido; um é justo e o outro é bom. Tendo-lhe sucedido Márcion o Pôntico, este deu muita força à escola, blasfemando sem pudor."
3.O mesmo Irineu explica vigorosamente o abismo infinito da matéria, carregada de erros, de Valentim, e põe a nu sua maldade oculta e insidiosa, como de serpente que se esconde na touceira.
4.Depois destes diz que houve na mesma época outro, um tal chamado Marcos, habilíssimo na arte da magia. Descreve também suas intermináveis iniciações e suas infames mistagogias, revelando-as nos seguintes termos:
5."Alguns deles, efetivamente, preparam um leito e celebram uma iniciação ao mistério com algumas invocações mágicas sobre os iniciados, e dizem ser um matrimónio espiritual o que eles fazem, à semelhança das uniões do alto. Outros, ainda, levam-nos às águas e, ao baptizá-los, dizem sobre eles: 'Em nome do desconhecido pai de todas as coisas; pela verdade, mãe de tudo; por aquele que desceu sobre Jesus.' E outros dizem sobre eles nomes hebreus, com o fim de impressionar mais os iniciados."
6.Agora bem, tendo morrido Higinio depois do quarto ano de episcopado, encarrega-se do ministério em Roma Pio. Em Alexandria foi proclamado pastor Marcos, depois que Eumenes cumpriu no total treze anos. Morto Marcos depois de dez anos de ministério, Celadion recebe o ministério da igreja de Alexandria.
7. Na cidade de Roma, falecido Pio no décimo quinto ano de seu episcopado, assume a presidência dali Aniceto. Hegesipo conta sobre si mesmo que no tempo deste veio a estabelecer-se em Roma e que ali viveu até o episcopado de Eleutério.
8.Mas sobretudo foi nesta época que floresceu Justino. Com estofo de filósofo, era embaixador da palavra de Deus e lutava pela fé com seus escritos. Escreveu efetivamente um tratado Contra Márcion, no qual recorda que, ao tempo em que o compunha, este ainda estava vivo. Diz assim:
9."Há um tal Márcion, natural do Ponto, que ainda hoje está ensinando seus seguidores a crerem em outro deus maior do que o criador: e com a ajuda dos demónios, fez com que por todas as raças de homens muitos proferissem blasfémias e negassem que o criador de todo o universo seja o Pai de Cristo, e em troca confessem que algum outro o tivesse criado, por ser em comparação maior do que ele. E como dissemos, todos os que procederam destes são chamados cristãos, do mesmo modo que, apesar de não serem as doutrinas comuns a todos os filósofos, o sobrenome de filosofia é comum a todos eles." Ao que acrescenta:
10."Também temos um tratado Contra todas as heresias passadas273, que vos daremos se quereis lê-lo."
11.E este mesmo Justino, depois de escrever muito acertadamente contra os gregos, dirigiu também outras obras que continham uma defesa em favor de nossa fé ao imperador Antonino, o chamado Pio, e ao senado romano, pois estava residindo em Roma. Sobre si mesmo declara em sua Apologia quemera e de onde procedia, nos seguintes termos: (continua)

273 Nada sabemos desta obra, exceto por citações de outros autores.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Falsas interpretações do milagre de Pentecostes II

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Não pode faltar o pecado na multidão de palavras, mas quem modera os seus lábios é um homem sábio." Provérbios 10:19

A última falsa teoria!

Boa Leitura!

(2) A moderna teoria racionalista ou mítica resolve o milagre em uma visão subjectiva que foi confundida pelos primeiros cristãos num facto objectivo externo. A glossolalia do Pentecostes (não a de Coríntio, que é reconhecido como "histórica") simboliza a verdadeira ideia da Universalidade do Evangelho e da unificação Messiânica de línguas e nacionalidades (eij \ "lao"; Kurivou kai; glw'ssa miva como o Testamento dos Doze Patriarcas expressa). É uma imitação de ficções rabínicas (encontrados já em Filo) no qual a legislação do Sinai foi proclamada pelo bath-kol, o eco da voz de Deus, a todas as nações em setenta línguas terrenas. Então Zeller (em ‘Conteúdo e origem dos actos, I. 203-205’), que pensa que todo o facto Pentecostal, se ocorreu mesmo, "Deve ter sido distorcido além do reconhecimento em nossas fontes." Mas o seu principal argumento é: "a impossibilidade e incredibilidade dos milagres ", que ele declara (p. 175, nota) ser "um axioma" do historiador, reconhecendo assim o pressuposto negativo ou preconceito filosófico que subjaz à sua crítica histórica. No entanto mantêm, que o historiador deve aceitar os factos como ele encontra-os, e se ele não poder explicá-los satisfatoriamente a partir de causas naturais ou ilusões subjectivas, ele deve indiciar forças sobrenaturais. Agora, a Igreja cristã (Católica), que certamente é um facto mais palpável e indiscutível, deve ter-se originado em um determinado lugar, em um determinado momento e, de certa maneira, e não podemos imaginar nenhuma circunstância mais adequada e satisfatória da sua origem do que o dado por Lucas. Baur e Zeller acham impossível que três mil pessoas fossem convertidas num dia e no mesmo lugar. Esquecem-se que a maioria dos ouvintes não eram cépticos, mas crentes numa revelação sobrenatural, e precisavam apenas de ser convencidos de que Jesus de Nazaré era o Messias prometido. Ewald diz contra Zeller, sem nomeá-lo (VI. 119) "Nada pode ser mais perverso do que negar a verdade histórica dos eventos relacionados em Actos 2." Mantemos com Rothe (Vorlesungen über Kirchengeschichte I. 33) que o evento Pentecostal foi um verdadeiro milagre ("ein Wunder eigentliches"), que o Espírito Santo desceu sobre os discípulos forjando-os e dotando-os com o poder de realizar milagres (de acordo com a promessa, Marcos 16:17, 18). Sem esses poderes miraculosos o cristianismo não poderia ter tomado conta do mundo como ele tomou. A Igreja Cristã (Católica) em si, com suas experiências quotidianas de regeneração e conversão em casa e em terras pagãs, é a melhor existente e omnipresente prova da sua origem sobrenatural.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Falsas interpretações do milagre de Pentecostes I

Philip Schaff - "History of the Christian Church" (continuação)

"Manifestou-se, com efeito, a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens." Tito 2:11

A primeira falsa teoria de duas, sobre os fenómenos vistos e sentidos no Pentecostes, como o vento e as línguas de Fogo!

Boa Leitura!

(1) A antiga interpretação racionalista resolve o vento numa tempestade ou num furacão sobrecarregado de electricidade, as línguas de fogo em relâmpagos que caiem na assembleia ou faíscas de uma atmosfera abafada, e a glossolalia numa oração de cada um na sua própria língua vernácula, ao invés do sagrado hebreu antigo, ou assumem que alguns dos discípulos conheciam diversos dialectos estrangeiros antes e usaram-nos na ocasião. Então Paulus, Thiess, Schulthess, Kuinöl, Schrader, Fritzsche, substancialmente também Renan, que enfrentam as violentas tempestades Orientais, mas explicam diferentemente a glossolalia de acordo com fenómenos análogos a épocas posteriores. Este ponto de vista faz da maravilha dos espectadores e ouvintes numa fenómeno tão normal e natural, um outro milagre. Rouba-lhes o senso comum, ou a honestidade encarregue do narrador. É totalmente inaplicável à glossolalia em Coríntio, que certamente deve ser admitida como um fenómeno histórico de ocorrência frequente na igreja apostólica. É desmentida pela comparativa wJsper e wJseiv da narrativa que distingue o som, de vento normal e as línguas de fogo, de fogo ordinário; assim como as palavras, "como uma pomba", à qual todos os Evangelhos, comparem a aparência do Espírito Santo no baptismo de Cristo, indicando que nenhuma real pomba está projectada.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Uma carta de Adriano dizendo que não se deveria perseguir-nos sem julgamento

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1."A Minucio Fundano: Recebi uma carta que me foi escrita por Serenio Graniano, varão claríssimo, a quem tu sucedeste. Pois bem, não me parece que devamos deixar sem examinar o assunto, para evitar que se perturbe os homens e que os delatores encontrem apoio para suas maldades.
2.Por conseguinte, se os habitantes de uma província podem sustentar com firmeza e às claras esta demanda contra os cristãos, de tal modo que lhes seja possível responder ante um tribunal, devem ater-se a este procedimento somente, e não a meras petições e gritos. Efectivamente, é muito melhor que, se alguém quiser fazer uma acusação, tu mesmo examines o assunto. 3. Portanto, se alguém os acusa e prova que cometeram algum delito contra as leis, julga tu segundo a gravidade da falta. Se porém - por Hércules - alguém apresenta o assunto para caluniar, decide sobre esta atrocidade e cuida de castigá-la adequadamente." Este é o transcrito de Adriano.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Quem foram os escritores eclesiásticos nos tempos de Adriano

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Entre estes destacava-se Hegesipo. Dele já utilizamos anteriormente numerosas citações, com o fim de estabelecer, tomando de sua tradição, alguns fatos dos tempos dos apóstolos.
2.Efectivamente, em cinco livros comentou a tradição limpa de erro da pregação apostólica, com um estilo muito simples. O tempo em que se deu a conhecer é indicado por ele mesmo ao escrever assim dos que desde o princípio instalaram os ídolos: "Erigiam-lhes cenotáfios e templos, como até hoje. Deles é também Antino, escravo do imperador Adriano. Ainda que contemporâneo nosso, em sua honra celebram-se os jogos Antinoeus. Adriano inclusive fundou uma cidade com o nome de Antinoo e criou profetas."
3.Também por este tempo, Justino, sincero amante da verdadeira filosofia, continuava ainda ocupado em exercitar-se nas doutrinas dos gregos. Ele mesmo indica este tempo ao escrever sua Apologia dirigida a Antonino: "Não creio que esteja fora de lugar mencionar aqui também Antinoo, que viveu em nossos dias e a quem todos se sentiam constrangidos a prestar culto como a um deus, por medo, apesar de saber quem era e de onde procedia."
4.E o mesmo Justino acrescenta o seguinte, ao mencionar a guerra de então contra os judeus: "E, de fato, na guerra judia de agora, Barkokebas, o líder da rebelião dos judeus, mandava que somente os cristãos fossem conduzidos a terríveis suplícios se não renegassem e blasfemassem contra Jesus o Cristo."
5. Na mesma obra demonstra que sua conversão da filosofia grega à religião não se fez sem razão, mas com juízo; escreve o seguinte: "porque também eu mesmo, que me comprazia nos ensinamentos de Platão, ao ouvir as calúnias contra os cristãos e vê-los irem intrépidos para a morte e para tudo que é terrível, comecei a pensar que não era possível que aqueles homens vivessem na maldade e no amor aos prazeres. Pois, que homem amante do prazer ou incontinente ou que pensa que comer carne humana é bom poderia abraçar com alegria a morte se com ela se vê privado do objeto de seus desejos? Não tentaria por todos os meios seguir vivendo sempre sua vida daqui e ocultar-se dos governantes, em vez de delatar-se a si mesmo para ser morto?"
6.O mesmo escritor conta ainda que Adriano recebeu de Serenio Graniano, lúcido governador, uma carta em favor dos cristãos, dizendo que não era justo, sem ter havido acusação nenhuma, condena-los à morte sem julgamento, apenas para dar o gosto aos gritos do povo, e que havia respondido a Minucio Fundano, procônsul da Ásia, ordenando-lhe que ninguém julgasse sem denúncia e sem acusação razoável.
7.Desta carta Justino oferece uma cópia, conservando a língua latina, tal como estava, e antepondo o seguinte: "Poderíamos também, pelo conteúdo de uma carta do máximo e ilustríssimo imperador Adriano, vosso pai, exigir que mandeis celebrar os julgamentos segundo nossa demanda. Mas isto não pedimos por ter sido ordenado por Adriano, mas por estarmos convencidos de que nossa reclamação é justa. No entanto, também colocamos atrás a cópia da carta de Adriano, para que saibas que também nisto dizemos a verdade. E a que segue."
8. E em continuação ao dito, o mencionado autor põe a própria cópia latina, que nós, no entanto, traduzimos ao grego, como pudemos, e diz assim: