sábado, 16 de julho de 2011

De Ródon e as dissensões que menciona dos marcionitas

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Também por este tempo, Ródon357, oriundo da Ásia e discípulo em Roma, como ele mesmo conta, de Taciano, a quem já conhecemos por relato anterior358, compôs diversos livros e alinhou-se também com os outros contra a heresia de Márcion. Conta que em seu tempo esta encontrava-se dividida em diversas correntes, descreve os causadores da ruptura e refuta com rigor as falsas doutrinas imaginadas por cada um deles.
2.Ouve pois, o que escreve: "Por isso discordam também entre si, porque reivindicam doutrinas inconsistentes. Efectivamente, de seu rebanho é Apeles, venerado por sua conduta e por sua idade, que confessa sim um único princípio, mas diz que os profetas procedem do espírito contrário, e obedece aos preceitos de uma virgem possuída pelo demónio chamada Filomena.
3.Outros ainda, assim como o próprio piloto (Márcion), introduziram dois princípios. De suas fileiras vêm Potito e Basílico.
4.Também estes seguiram o lobo do Ponto, e não encontrando, como ele também não encontrou, a divisão das coisas, deram meia volta para o lado fácil e proclamaram dois princípios, arbitrariamente e sem demonstração. E outros, partindo por sua vez destes, chegaram ao pior e já supõe não apenas duas, mas três naturezas; seu chefe e patrão é Sineros, segundo dizem os que estão a cargo de sua escola."
5.Escreve também o mesmo autor que inclusive chegou a ocupar-se de Apeles; diz assim: "Porque o velho Apeles, quando tratou connosco convenceu-se de que estava dizendo muitas coisas equivocadamente, e a partir de então costumava repetir que não convinha examinar absolutamente as razões, mas que cada um ficasse com sua própria crença; declarava mesmo que se salvavam os que tinham posta sua esperança no Crucificado, contanto que apresentem boas obras. Mas, como já dissemos, declarava que para ele, de todos, o assunto mais obscuro era o que se refere a Deus. E dizia, assim como nossa doutrina, que há somente um princípio."
6. Logo, depois de expor toda a opinião deste, segue dizendo: "Como eu lhe perguntasse: De onde tiras esta prova ou como podes tu dizer que há um princípio? Explica-nos. Respondeu que as profecias se refutavam a si mesmas porque nada disseram de inteiramente verdadeiro, já que discrepam, são enganosas e contradizem umas às outras. Quanto a como há um só princípio, dizia que o ignorava, que assim, apenas isto, sentia-se movido.
7.Então eu o conjurei a que dissesse a verdade, e ele jurou que estava dizendo a verdade: que não sabia como existe um só Deus incriado, mas que ele o cria. Eu então pus-me a rir e acusei-o de dizer que é mestre e ainda assim não dominar o que ensina."
8.O mesmo autor, dirigindo-se a Calistion na mesma obra, confessa que ele mesmo foi discípulo de Taciano em Roma e diz também que Taciano preparou um livro de Problemas; como Taciano prometera mostrar através deles o obscuro e oculto das divinas Escrituras, o próprio Ródon anuncia por sua vez que vai expor num livro especial as soluções dos problemas daquele. Conserva-se também dele um Comentário sobre o Hexameron.
9.Apeles, no entanto, proferiu impiamente inúmeros ultrajes contra a lei de Moisés, blasfemando contra as divinas palavras com seus numerosos escritos e pondo grande empenho, pelo menos em aparência, em refutá-las e destruí-las. Isto é, pois, o que há sobre eles.

357 Sobre este só se sabe o que aqui diz Eusébio.
358 Vide IV:XVI:7; IV:XXIX.

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