sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Que tratados de Justino chegaram a nós

História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)

Boa Leitura!

1.Justino deixou-nos um grande número de obras, extremamente úteis, testemunho de uma inteligência cultivada e empenhada nas coisas divinas. A elas remetemos os estudiosos, depois de assinalar propriamente as que chegaram a nosso conhecimento290.
2.Dele há primeiramente um tratado dirigido a Antonino, o chamado Pio, e a seus filhos, assim como ao senado romano, em favor de nossas doutrinas; e outro que contém uma segunda Apologia em defesa de nossa fé, que dirigiu ao sucessor e homónimo do citado imperador Antonino Vero291, cuja época estamos registando até o presente.
3.Há também esta obra, o Discurso aos gregos, na qual, depois de estender-se largamente sobre os problemas apresentados a nós e aos filósofos gregos, discorre sobre a natureza dos demônios. Mas não é urgente citá-lo aqui.
4.Também chegou a nós outra obra sua contra os gregos, que intitulou Refutação; e além destas, outra Sobre a monarquia de Deus, que compôs com elementos recolhidos não somente de nossas Escrituras, mas também dos livros dos gregos.
5.Escreveu ainda o intitulado Psaltes e outro, de uso escolar, Sobre a alma, no qual propõe diversas questões sobre o problema que discute, e lista as opiniões dos filósofos gregos, prometendo contradizê-las e expor a sua própria em outro escrito.
6.Compôs também um Diálogo contra os judeus, diálogo que sustentou na cidade de Éfeso com Trífon, o mais ilustre dos hebreus de então. Nele explica de que modo a graça divina o levou à doutrina da fé, com que empenho inicialmente se inclinava para as ciências filosóficas e que entusiasmo havia depositado na busca da verdade.
7.Na mesma obra diz dos judeus que eles foram os que prepararam uma conspiração contra a doutrina de Cristo e expõe este pensamento dirigindo-se a Trífon: "Não somente não vos haveis arrependido do mal que fizestes, mas até, tendo escolhido então alguns homens especialmente aptos, os enviastes desde Jerusalém a toda a terra dizendo que havia aparecido um seita atéia de cristãos e enumerando as mesmas calúnias que todos os que nos desconhecem repetem contra nós, de modo que não somente sois culpados de vossa própria injustiça, mas também, simplesmente, da de todos os demais homens."
8.Escreve também que inclusive até seu tempo seguiam brilhando os carismas proféticos na Igreja, e menciona o Apocalipse de João dizendo claramente que é do apóstolo. E cita igualmente alguns ditos de profetas, provando a Trífon que os judeus os eliminaram da Escritura. Conhecem-se ainda outros numerosos trabalhos seus, conservados entre muitos irmãos.
9.E assim é que inclusive aos antigos pareceram do maior interesse os tratados de Justino, tanto que Irineu cita suas palavras. Efectivamente, no livro IV Contra as heresias diz textualmente: "E muito bem disse Justino, em sua obra Contra Márcion, que não poderia crer nem no próprio Senhor se este lhe anunciasse outro Deus diferente do demiurgo." E no livro V da mesma obra com estas palavras: "E muito bem disse Justino que, antes da vinda do Senhor, nunca Satanás se atreveu a blasfemar contra Deus; como se ainda não soubesse de sua condenação."
10. Isto era obrigação dizer para animar os estudiosos a um trato aplicado e solícito para com as obras deste autor. Tais eram as notícias que a ele se referem.


290 De todas, só chegaram a nós as chamadas Apologias I e II e o Diálogo com Trifon, ainda que com algumas
lacunas.

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