segunda-feira, 26 de julho de 2010

Dos sinais que precederam a guerra

Boa Leitura!

1. Toma pois, e lê o que apresenta no livro VI de suas Histórias com estas palavras: "Naquele tempo os impostores e os que levantavam tais calúnias contra Deus pervertiam o povo miserável, de forma que nem percebiam nem davam crédito a tais prodígios bem claros que anunciavam de antemão a iminente desolação; antes, como se aturdidos por um raio e como se não tivessem olhos nem alma, faziam ouvidos surdos às mensagens de Deus.
2.Estas foram: um astro que se deteve sobre a cidade, semelhante a uma espada de dois gumes, e um cometa que durou todo um ano. Outra vez foi quando, antes da insurreição e dos distúrbios que levaram à guerra, estando o povo reunido para celebrar a festa dos ázimos, no oitavo dia do mês de Jantico, à nona hora da noite, brilhou sobre o altar e o templo uma luz tão grande que poder-se-ia pensar que era dia, e isto durou uma meia hora. Aos ignorantes poderia parecer um bom sinal, mas os escribas interpretaram-no correctamente antes que os fatos ocorressem.
3.E na mesma festa, uma vaca que o sumo sacerdote conduzia ao sacrifício pariu um cordeiro no meio do templo.
4.E a porta oriental do interior, que era de bronze e muito pesada, e que havia sido fechada ao anoitecer com dificuldade por vinte homens que a trancaram solidamente com ferrolhos presos com ferro, além de ter gonzos profundos, abriu-se sozinha à sexta hora da noite.
5.E passada a festa, não muito depois, no vigésimo primeiro dia de Artemisio, apareceu um fantasma demoníaco de tamanho incrível. E o que se passará a dizer poderia parecer mentira se não tivesse sido contado pelos mesmos que o viram e se os sofrimentos que se seguiram não fossem dignos destes sinais. De fato, antes do pôr-do-sol, apareceram pelo ar em redor de toda a região carros e falanges armadas que se lançavam através das nuvens e rodeavam as cidades.
6.E na festa chamada Pentecostes, à noite, entrando os sacerdotes no templo, como de costume, para exercer suas funções, dizem que primeiramente perceberam movimento e ruído de golpes, e logo um grito em uníssono: Saiamos daqui!
7.E o que é mais terrível: um homem chamado Jesus, filho de Ananías, homem simples, camponês, quatro anos antes da guerra, quando a cidade desfrutava da maior paz e do máximo esplendor, veio à festa, pois era costume que todos erigissem tendas em honra a Deus197, e de repente começou a gritar pelo templo: Voz do oriente! Voz do ocidente! Voz dos quatro ventos! Voz sobre Jerusalém e sobre o templo! Voz dos recém-casados e casadas! Voz sobre todo o povo! Dia e noite gritava isto por todas as vielas.
8.Mas alguns cidadãos notáveis, irritados pelo mau agouro, prenderam o homem e maltrataram-no, enchendo-o de feridas. Mas ele, que não falava em proveito próprio nem por conta própria, continuava gritando aos presentes o mesmo que antes.
9.Pensando então os chefes que a agitação daquele homem era algo demoníaco, conduziram-no ante o procurador romano198. Ali, dilacerado com açoites até os ossos, não suplicou nem derramou uma lágrima, mas, tornando sua voz tão chorosa quanto possível, a cada ferida respondia: Ai, ai de Jerusalém!"
10.Comenta o mesmo Josefo outro fato mais extraordinário. Diz que nas escrituras sagradas encontrou-se um oráculo com este conteúdo: que naquele tempo alguém saído de seu país regeria o mundo. O próprio Josefo concluiu que o oráculo tinha sido cumprido em Vespasiano199.
11.Mas este não governou a todo o mundo, mas somente à parte submetida aos romanos. Seria pois mais justo referi-lo a Cristo, a quem o Pai havia dito: Pede-me e te darei nações como herança e os confins da terra como tua possessão200. Pois bem, por este mesmo tempo chegara a toda a terra a voz dos santos apóstolos e aos confins do mundo suas palavras201.

197 Era portanto a festa dos Tabernáculos (Setembro-Outubro).
198 Luceius Albinus, procurador entre 62 e 64.
199 Não se sabe em que passagem da escritura poderia encontrar-se este oráculo.
200 Sl 2:8.
201 Rm 10:18.

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