História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)
Boa Leitura!
1.Neste tempo floresciam também, muito destacados, Meliton, bispo da igreja de Sardes, e Apolinário, da de Hierápolis. Ambos, cada um em particular, dirigiram ao imperador romano já mencionado daquele tempo vários tratados apologéticos em favor da fé.
2.Deles chegaram até nós as seguintes obras. De Meliton, os dois livros Sobre a Páscoa e o livro Sobre a conduta e sobre os profetas; os tratados Sobre a Igreja e Sobre o domingo; ainda, Sobre a fé do homem305, Sobre a criação e Sobre a obediência dos sentidos à fé; além destes, os tratados Sobre a alma e o corpo...(.. .)306, Sobre o baptismo e sobre a verdade e sobre a fé e o nascimento de Cristo; um livro Sobre sua profecia; e Sobre a alma e o corpo307, Sobre a hospitalidade, A chave e os escritos Sobre o diabo e o Apocalipse de João e o livro Sobre Deus encarnado; e além de todos estes, um livrinho A Antonino.
3. Começando pois, o livro Sobre a Páscoa, indica o tempo em que o compôs, nestes termos: "Sob o procônsul da Ásia Servilio Paulo, tempo em que Sagaris sofreu martírio, houve em Laodicéia muitas disputas sobre a Páscoa, que caía precisamente naqueles dias, e escreveu-se isto."
4.Este tratado é mencionado por Clemente de Alexandria em seu Sobre a Páscoa, que ele mesmo diz ter composto por causa do escrito de Meliton. E no livrinho dirigido ao imperador conta Meliton que, sob este, deram-se contra nós coisas como estas:
5."Pois isto nunca havia ocorrido; agora persegue-se a linhagem dos adoradores de Deus308, afetados na Ásia por novos editos309. Efectivamente, os desavergonhados sicofantas e amantes do alheio, tomando pé nas prescrições, andam roubando abertamente, e expoliam de noite e de dia os que nada fizeram de mal."
6.E depois de outras coisas diz: "E se isto é feito porque tu o mandas, está bem-feito, porque nunca um imperador justo poderia querer algo injustamente, e nós suportamos com gosto a honra desta morte. Um só pedido, no entanto, te dirigimos: que tu mesmo examines primeiro os causadores de tal rivalidade e julgues com justiça se são dignos de morte e de castigo, ou de ficar salvos e tranquilos. Mas se não procedem de ti esta determinação e este novo edito - que nem sequer contra inimigos bárbaros seria conveniente -, com maior razão te pedimos que não nos abandones, indiferente a semelhante latrocínio público."
7. Ao dito acrescenta ainda isto: "Efectivamente, nossa filosofia alcançou sua plena maturidade entre bárbaros, mas havendo-se estendido também a teus povos sob o grande império de teu antepassado Augusto, converteu-se sobretudo para teu reinado em um bom augúrio, pois desde então a força dos romanos cresceu em grandeza e esplendor. Dela és tu o desejado herdeiro e seguirás sendo-o com teu filho, se proteges a filosofia que se criou com o império e começou quando Augusto e teus antepassados inclusive a honraram ao par com as outras religiões.
8.A prova maior de que nossa doutrina floresceu para bem junto com o Império felizmente iniciado é que, desde o reinado de Augusto nada de mau aconteceu, antes pelo contrário, tudo foi brilhante e glorioso, segundo as preces de todos.
9.Entre todos, somente Nero e Domiciano, persuadidos por alguns homens malévolos, quiseram caluniar nossa doutrina, e acontece que deles derivou, por costume irracional, a mentira caluniosa contra tais pessoas.
10.Mas teus pios pais corrigiram a ignorância daqueles repreendendo por escrito muitas vezes todos que se atreveram a criar novidades sobre os cristãos. Entre eles destaca-se teu avô Adriano, que escreveu a muitas e diferentes pessoas, inclusive ao procônsul Fundano, governador da Ásia. E também teu pai escreveu às cidades sobre não inventar nada acerca de nós, inclusive nos tempos em que tudo administravas junto com ele. Entre esses escritos acham-se os dirigidos aos habitantes de Larisa, aos tessalonicenses, aos atenienses e a todos os gregos.
11.E quanto a ti, que sobretudo nestes assuntos tens o mesmo parecer e até muito mais humano e filosófico, estamos persuadidos de que porás em efeito o que te pedimos."
12.Isto é o que se diz no tratado mencionado. E nos Extractos por ele escritos, o mesmo Meliton, ao começar, faz no prólogo um catálogo dos escritos admitidos do Antigo Testamento, catálogo que é necessário enumerar aqui. Escreve assim:
13."Meliton a seu irmão Onésimo: Saúde. Visto que muitas vezes, valendo-te de teu zelo pela doutrina, tens pedido para ti extractos da lei e dos profetas, sobre o Salvador e toda a nossa fé; mais os que propagavam novas crenças, não especificamente contra os cristãos. ainda, já que quiseste saber dos livros antigos com toda exactidão quantos são em número e qual é sua ordem, pus minha diligência em fazê-lo, sabendo de teu ardor pela fé e teu afã de saber sobre a doutrina, já que em tua luta pela salvação eterna e em tua ânsia por Deus, preferes isto mais do que tudo.
14.Assim pois, tendo subido ao Oriente e chegado até o lugar em que se proclamou e se realizou, informei-me com exactidão dos livros do Antigo Testamento. Ordenei-os e envio-os a ti. Seus nomes são: cinco de Moisés: Génesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Jesus de Navé, Juízes, Rute; quatro dos Reis, dois dos Paralipômenos; Salmos de Davi; Provérbios de Salomão, ou também Sabedoria, Eclesiastes, Cantar dos Cantares, Jó; dos profetas, Isaías, Jeremias, os doze em um só livro, Daniel, Ezequiel; Esdras. Destes livros tirei os Extractos, que dividi em seis livros." E é isto que há de Meliton.
305 Um dos manuscritos dá o título Sobre a natureza do homem.
306 Neste ponto do manuscrito aparecem sete letras que não fazem sentido e são interpretadas de diferentes formas
por diversos estudiosos.
307 Pode tratar-se de uma repetição do título citado acima ou de uma obra distinta.
308 Procedimento contrário às ordem de Trajano.
309 Não se tem notícia de tais editos contra os cristãos, pode ser uma referência às decisões de Marco Aurélio contra
sexta-feira, 4 de março de 2011
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