História Eclesiástica - Eusébio Cesaréia (continuação)
Boa Leitura!
1.Posto que ao dar início a esta obra348 prometemos citar oportunamente as palavras dos antigos presbíteros e escritores eclesiásticos, nas quais nos transmitiram por escrito as tradições chegadas até eles sobre as Escrituras canônicas, e como Irineu era um destes, citemos também suas palavras:
2.E em primeiro lugar as que se referem aos sagrados evangelhos; são as seguintes: "Mateus publicou entre os hebreus, em sua própria língua, um Evangelho também escrito349, enquanto Pedro e Paulo estavam em Roma evangelizando e lançando os fundamentos da Igreja.
3."Depois da morte destes, Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, transmitiu-nos por escrito, também ele, o que Pedro havia pregado. E Lucas, por sua parte, o seguidor de Paulo, colocou em livro o Evangelho que este havia pregado.
4.Finalmente João, o discípulo do Senhor, o que havia se reclinado sobre seu peito, também ele publicou o Evangelho, enquanto morava em Éfeso da Ásia."
5.Isto é o que diz o livro terceiro antes mencionado da dita obra, mas no quinto expressa-se acerca do Apocalipse de João e do número do nome do anticristo350 como segue: "Sendo isto assim e encontrando-se este número em todas as boas e antigas cópias, e atestando-o aqueles mesmos que viram João face a face, e visto que a razão nos ensina que o número do nome da besta aparece manifesto segundo o cálculo dos gregos por meio das letras que nele há..."
6. E um pouco mais abaixo segue dizendo sobre o mesmo: "Nós pois, não nos arrisquemos a manifestarmo-nos de maneira segura sobre o nome do anticristo, porque, se houvesse sido necessário na presente ocasião proclamar abertamente seu nome, ter-se-ia feito por meio daquele que também tinha visto o Apocalipse, já que não faz muito tempo que foi visto, mas quase em nossa geração, ao final do império de Domiciano."
7. Isto é o que o citado autor refere acerca do Apocalipse, mas menciona também a primeira carta de João ao apresentar numerosos testemunhos tirados dela, assim como da primeira de Pedro; e não apenas conhece, mas também aceita351 o escrito do Pastor quando diz: "Porque bem diz a Escritura: O primeiro de tudo, crê que há um só Deus, o que criou e ordenou tudo, etc."
8. E até utiliza algumas sentenças tiradas da Sabedoria de Salomão, dizendo mais ou menos: "Visão de Deus que produz incorrupção; e a incorrupção faz estar perto de Deus", e menciona as Memórias de certo presbítero apostólico, sobre cujo nome silenciou, e cita suas Explicações das divinas Escrituras.
9.Faz menção ainda ao mártir Justino e a Inácio, utilizando uma vez mais testemunhos tirados das obras escritas por eles, e promete refutar ele mesmo, com trabalho próprio, a Márcion, partindo de seus escritos.
10.E quanto à tradução das Escrituras inspiradas realizada pelos Setenta, ouve o que escreve textualmente: "Deus pois fez-se homem, e o Senhor mesmo nos salvou, depois de dar-nos o sinal da Virgem, mas não como dizem alguns de agora que se atrevem a traduzir a Escritura: Eis aqui que a jovem conceberá em seu ventre e dará à luz um filho352, como traduziram Teodósio, o de Éfeso, e Áquila, o do Ponto, ambos judeus prosélitos, aos que seguem os ebionitas quando dizem que Ele nasceu de José."
11. Depois de um breve espaço, acrescenta ao dito: "Efectivamente, antes que os romanos fizessem prevalecer seu governo e quando os macedónios ainda dominavam a Ásia, Ptolomeu, filho de Lagos, ambicionando adornar a biblioteca por ele organizada em Alexandria com as obras de todos os homens, ao menos as boas, pediu aos de Jerusalém para ter traduzidas em língua grega suas Escrituras.
12.Eles, que então ainda estavam submetidos aos macedónios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, os mais versados dentre eles nas escrituras e em ambas as línguas. Deus fazia precisamente o que queria.
13.Ptolomeu, querendo testá-los separadamente e evitando que se pusessem de acordo para ocultar por meio da tradução o que há de verdade nas Escrituras, separou-os uns dos outros e ordenou que escrevessem a mesma tradução, e assim fez com todos os livros.
14.Mas logo que se reuniram junto a Ptolomeu e cada um comparou sua própria tradução, Deus foi glorificado e as Escrituras foram reconhecidas como verdadeiramente divinas: todos haviam proclamado as mesmas coisas com as mesmas expressões e os mesmos nomes, desde o começo até o fim, de forma que até os pagãos ali presentes reconheceram que as Escrituras foram traduzidas sob a inspiração de Deus.
15.E não há que estranhar que Deus fizesse isto, porque foi Ele que, havendo sido destruídas as Escrituras no cativeiro do povo sob Nabucodonosor e tendo os judeus regressado a seu país depois de setenta anos, logo, nos tempo de Artaxerxes, rei dos persas, inspirou o sacerdote Esdras, da tribo de Levi, a refazer todas as palavras dos profetas que o haviam precedido e restituir ao povo a legislação dada por meio de Moisés."
Tudo isto diz Irineu.
348 Vide I:I:1;III:III: 1-3.
349 Supõe-se as duas formas: oral e escrita.
350 Ap 13:18.
351 i.e. aceita-o entre as Escrituras canônicas.
352 Os Setenta traduzem "partenas" (virgem), enquanto os outros traduzem "neanis" (jovem).
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário